terça-feira, 20 de agosto de 2013

Desapego...

"Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho". (S. Paulo, Apóstolo aos Filipenses)





Precisamos aprender a desapegar...

Principalmente do que não nos pertence.

Aliás, tenho dúvida se algo de fato nos pertence para além das consequências de nossos atos.

Não aprendemos a ouvir não...

Desde o Éden é assim.

Somos potencialmente possessivos.

Fazemos-nos donos do que amamos, quando nem de nossa vida o somos.

Nossos vazios não serão preenchidos pelo que insistimos em reter.

O apego a vida retarda o encontro com Deus.

Na verdade,  não nos preparamos para o melhor.

Deus nos ensinou como fazer...

Ao assumir a forma humana deixou o esplendor da sua glória.

Ao subir a cruz abriu mão do assédio das multidões... 

dos gritos de Hosanas!!

da companhia do Pai.

A relação que Deus nos propõe passa pelo desapego.

Desapego de pessoas, de conquistas, de coisas e convicções.

É quando nos esvaziamos de nós mesmos que Ele se torna nosso tudo...

e como Paulo, apóstolo, podemos dizer:

"Logo já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim."

O que Deus nos tem reservado em sua bondade é muito melhor do que o que pensamos ter.

Venha encontrar seu descanso em mim, é o convite que Deus te faz.

Não chore mais pelo que se foi, mas sorria para o que está vindo...

...e seja finalmente feliz.



Marcelo de Paula


Especialmente para minha amiga Romy Radke

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Se você soubesse...

"Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com os ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera" (Profecia de Isaías)



Parece que a gente insiste em não aprender...

Aprender de Deus, de seu amor e cuidado...
Do descanso e da paz, e de todo o bem que nos faz.

Todo dia nos dá o sol...
Toda noite a lua e as estrelas.
De quando em vez ainda temos chuva.
Para outros, neve...
O orvalho da manhã.
O perfume das flores.
O cheiro da terra
A água que sacia...
O pão que jamais falta.

Nada, no entanto,  parece nos satisfazer.

Nos adia o inevitável sem que fiquemos sabendo.
Prepara nossas possibilidades enquanto dormimos.
Cerca-nos de anjos que sequer reconhecemos.
Nos dispõe o seu perdão sempre que erramos.

Nada, no entanto, parece nos satisfazer.

Nos enchemos de cuidados...
A ansiedade nos arrebata,
O medo paralisa...
E o efêmero  nos desvia do sagrado nessa fuga de nós mesmos.

Talvez você não saiba, mas queria que soubesse...

Deus esteve com você em todos seus processos
Contou seus passos enquanto durou as suas dúvidas.
Recolheu-lhe cada lágrima para devolvê-las em chuva de benção.
Dimensionou a sua dor como quem conhece a tua alma.
Viu desvanecer tua esperança para recobrá-la em seguida.
Amou os seus mais que você mesmo.
Te acompanhou nas insônias e te sustentou ao longo do dia.

Ah, se você soubesse que o que te compete é bem menor do que pensa ser...

Mas parece que a gente insiste em não aprender...
Aprender de Deus, de seu amor e cuidado...
Do descanso e da paz... e de todo o bem que nos faz.


Marcelo de Paula




quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Mania de sofrer...

"Mas para vós que temeis o meu nome nascerá o Sol da Justiça...
e salvação trará debaixo das suas asas." (Profecia de Malaquias)




O dia amanhece lá fora...

mas não dentro da gente.

Acomodamo-nos à familiaridade de nossas cavernas escuras e sombrias,

morada de anseios e pavores do desconhecido.

Quantas bençãos reserva o dia para os que ousam espiar pela janela da alma.

Flertamos com um luto que não nos foi destinado passar...

Mania de sofrer...

Medo de perder...

Vontade de viver...

Lágrimas que nos encharcam a face, a mesma face que o sol anela iluminar e aquecer.

A esperança, ignorada, dorme e acorda ao nosso lado.

Ansiosa para que a abracemos, renova-se em cada amanhecer.

É o sorriso puro dos filhos...o cafuné de quem nos ama, e que também amamos.

O conforto dos gestos e palavras dos que nos querem bem.

A música perfeita que diz tudo o que queríamos ouvir.

Não sei por onde Deus me leva, mas sei que Ele me conduz para Jesus*

O melhor de tudo ainda está por vir.

Percebi com o tempo que bem pouco de meus temores se concretizaram.

Quanta paz deixei de sentir...

Quantos sorrisos não distribuí...

Mas enfim, acho que aprendi...

Venha o que vier, vou deixar o dia me mostrar...

Não terei medo de ter medo.

Não negarei minha humanidade, mas saberei que cada raiar do sol...

...é recomeço.


Marcelo de Paula


Especialmente para minha amiga Camila Romam



*Inácio de Loyola


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Dias mais leves...

"Se tu uma benção"  (De Javé ao patriarca Abraão)




É o que eu quero...

Redescobrir o sentido de coisas esquecidas.

Dias mais leves...

Pra caminhar sem pressa pelas ruas da minha cidade.
Pra perceber outros caminhantes...trocar sorrisos que desarmam a estranheza.
Pra assoviar sem motivos a melodia dos corações tranquilos.
Pra produzir tempo para os que nunca tive...
Pra ser-lhes o olhar que encoraja, a mão que afaga mas que também supre.

Dias mais leves...

Pra deitar e dormir, não sem antes sonhar acordado o sonho que se lembra.
Pra espreguiçar demoradamente como que desperto sobre nuvens de algodão.
Pra saudar com sorriso de criança a paisagem que minha janela mostrará.
Pra chorar com os que choram, alegrar-me com os alegres, ser humano em todo tempo.

Dias mais leves...

Pra não me assustar com o som das águas vespertinas e nem com o silêncio que inunda a noite.
Pra não me desgostar do beijo que não veio, não quente como eu queria.
Pra aceitar os outros como são e não doar-lhes nada além do que sou.
Pra não ir além do que posso ir, nem me cobrar o milagre que não me compete fazer.

Dias mais leves...

Pra contemplar a beleza de tudo que é belo
Pra fazer de teus olhos, espelho...
De teu colo, travesseiro...
De teus lábios, conselhos...
De teu abraço, o casaco que me aquece a alma.

É o que eu quero...

Redescobrir o sentido de coisas perdidas

Dias mais leves...

Pra fazer de ti, Jesus...

...o meu tudo.


Marcelo de Paula


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Muito mais que palavras...

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus"
(Evangelho de S. João, Apóstolo)





Não é sempre que eu tenho as palavras como gostaria de tê-las.
Palavras agradáveis....
Que acalentam...
Que recriam...
Renovadoras de sorrisos desaprendidos.

Sei como é esperar por algo que não vem.

Ah, a desilusão do beijo frio...
O diagnóstico quase perfeito...
O que dizer da semente que não vingou? ...e sobre o tempo que mentiu?
E aquele olhar que só ficou no olhar?
Hummm...sem falar no amor que não mais entra por aquela porta...
A fé que se revelou ingênua.

Enfim, o que dizer para quem precisa muito mais que palavras?

O que falta em palavras, porém, me sobra em sentimento.
Daí, essa troca entre mim e ti.
De que valem palavras lançadas ao vento,
Quando a experiência do sentir nos faz tão próximos?

Jesus sempre tinha as palavras...e muito mais que elas.
Ele tinha colo e calor... Mãos santas que afagavam almas destruídas.

Em tempos que me faltam palavras, tenho buscado "A Palavra", o Verbo Divino que em mim soprou o fôlego da vida.

Ele me tem acalmado as tormentas...

De um jeito todo seu, me tem comunicado amor em meio a questionamentos insistentes.

Não, não é sempre que o pregador tem as palavras certas e apaziguadoras, mas o que tenho e nos une nessa condição humana, é essa doce necessidade de estar cada dia mais perto de Deus.


Marcelo de Paula




quarta-feira, 3 de julho de 2013

Deus e o silêncio...

"Como ovelha, muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca" (Profecia de Isaías)





Deus fala-me através do silêncio...

Fala a ti também.

Fala a todos quantos queiram mergulhar nas profundezas do silêncio que angustia.

De madrugada, quando os sons cessam e a escuridão abraça, lágrimas quentes que se pensavam extintas banham rostos esculpidos pela aflição.

Que momento sublime esse quando a glória de Deus se revela na fraqueza humana.

Não há consolo para certas dores.

Não há canção que apazigue o coração de mãe que contempla filho sofrendo.

O que o dia encobre, a noite nos revela na penumbra.

Tenho aprendido não cobrar voz dos que flertam com o silêncio.

As vezes pensando-nos altruístas, tornamo-nos inconvenientes.

Quase sempre são fortes as razões dos que emudecem.

Este pregador devaneia no silêncio. Absorvido em nostalgias, vou suturando minhas feridas da alma enquanto escrevo.

Deus também já habitou a zona do silêncio - "Como ovelha, muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca."

Dizer o que para quem simplesmente não nos compreende?

Os amigos de Jó lhe foram benção enquanto permaneceram calados.

Diante do silêncio dolorido do outro, o melhor a fazer talvez seja silenciar com ele.

É assim que Deus faz com a gente...

Parece que não está ali, mas em silêncio habita nosso silêncio.

Até que nos damos conta de que estávamos o tempo todo...

... nos braços do Pai.


Marcelo de Paula







terça-feira, 2 de julho de 2013

Talvez sim, talvez não...

"E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus". (Epístola de S. Paulo, Apóstolo aos Tessalonicenses)




Coração...

Lugar de tudo...tudo que sentimos, tudo que queremos e não temos.

Canto de certezas e enganos...

Morada compartilhada pela fé e ceticismo.

Estrada de terra...poeira nos olhos, lama nos pés.

Devemos mesmo esperar pela mudança que nunca chega?

Talvez sim,
Talvez não.

Coração...

Lugar inquieto em meio ao silêncio de uma alma confusa e cansada.

Protestos inaudíveis e invisíveis para um mundo exterior onde desfila, imponente, a vaidade.

Essa sina é de cada um.

Devemos mesmo esperar pela mudança que nunca chega?

Talvez sim,
Talvez não.

Coração...

Lugar em que o talvez hora pende pro sim, hora pro não.

Triunfo da incerteza.

Mesmo assim a esperança, moribunda, ainda acena. Afinal, o Homem ressuscitou.

Tal como havia dito Ele se levantou quando tudo parecia perdido.

Sim, o céu foi rasgado feito papel, e dele desceu Deus, que se humanizou.

E agora?

Devemos mesmo esperar pela mudança que nunca chega?

(...)

Coração...

Lugar em que ainda que não se possa ter tudo

Pode-se ter o essencial...

A Paz que excede todo entendimento.

Vem, esta é a hora.


Marcelo de Paula / C.G






quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma fonte inesgotável de inspiração...

"Se possível afasta de mim este cálice" (Jesus de Nazaré, no jardim do Getsêmani)




Às vezes passo dias sem escrever...
semanas e até meses.

Talvez porque não escreva por compromisso.

Meus devaneios são assim...

...descompromissados.

Mesmo assim me cobro, penso que a inspiração se foi para sempre.

O céu pintado de estrelas, ou mesmo a chuva fina que cai ao entardecer...

Meu filho que ao meu lado dorme o sono da paz...

Nada, absolutamente nada, me refaz de meu instante letárgico.

Eu sou o pregador...o pregador que às vezes se cala por não ter o que dizer pra consolar.

O céu enegrece diante dos meus olhos e não me reconheço.

Já tive céus com auroras boreais... já carreguei o peso da lua... já me curti em espelho d'água...

Mas por vezes o silêncio fala por mim.

Não fosse pelos maus dias, como valorizaria os bons?

Tão certo como o amanhecer, a canção nascerá de novo em meu coração.

Uma vez Deus agonizou num jardim. Os poros de sua fronte romperam em sangue que gotejou no chão,
o mesmo chão que proveu o barro que me moldou.

Isso me redime...me redime da culpa de não ser feliz o tempo todo.

Se por um lado me entristeço por não prover um texto que te faça sorrir,
por outro me consolo por te fazer saber que sou tão você.

Você não está só na sua dor, nem nos seus medos, anseios e ausência de respostas...

Conheço bem os demônios que te assombram...

Conheço também o Deus que se fez humano pra experimentar o que sentimos.

Não, a inspiração não se foi...nem por hora, muito menos para sempre.

Ela é gestada nas nossas experiências...nas nossas dores e prazeres...

Assim Deus vai nos refazendo...acrescentando sangue puro e salvador ao barro deturpado,
nos remodelando à sua imagem e semelhança...

...nos animando e inspirando.


Marcelo de Paula

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sobre cada um de nós...


"Porque quando estou fraco então é que sou forte" (Carta aos Coríntios, de S. Paulo, Apóstolo)


...sobre uma menina mulher que está cansada de tudo, de viver sozinha, de dormir e acordar sozinha. Cansada de não ter uma corrente forte, na qual possa se segurar até que passe a tempestade.

É com este desabafo que abro meus devaneios de 2013.

Quero fazer dele uma homenagem especial a cada pessoa que me lê.

Estou ciente que meu universo de leitores é essencialmente feminino, mas os homens também sentem, também choram, também devaneiam, ainda que longe dos olhos dos outros, mas nunca de Deus.

Fiquei devaneando alguns dias sobre esse desabafo que li, tentando me colocar no lugar.

Tais palavras jamais brotariam de uma terra infértil, de um coração em que a esperança secou.

A angústia, na verdade, é uma nascente de expressões autênticas...

Por seus dutos a alma trafega livre...desimpedida.

De um coração doído surge a mais bela poesia, e do desencanto com a vida a entrega que se faz necessária para Deus agir.

O sentimento de incompletude é compartilhado universalmente.

Não chega a ser consolador saber que não somos os únicos a nos sentir só...a dor de cada um pertence a cada um, mas somos convidados à reflexão: Fazemos parte de uma comunidade de incompletos.

Já escrevi outras vezes sobre esta sensação estranha de solidão acompanhada...sim, porque não sente isso unicamente os que se vêem sós.

Quando tudo nos cansa é porque nossa alma necessita realmente de descanso.

Perdemos nossos referenciais em meio  a angústia insistente...  ficamos à deriva de um destino incerto enquanto esperamos algo que nos alente o espírito.

Algumas condições de nossa alma são mais propícias à visita de Deus, e,  penso mesmo, que essa é uma delas.

"...ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus", escreveu o salmista numa condição, quem sabe, bastante semelhante.

Não sei quanto a vocês, mas isso me eleva, saber que Deus não é indiferente ao que sinto.

A tempestade, por vezes, demora a passar, mas quando o faz, a calmaria que se segue é proporcionalmente acalentadora.

Este pregador que devaneia, é experimentado nos sentimentos...

Jamais tive medo de sentir, de rasgar minha alma, de ter descoberta minhas inconsistências, pois quanto mais assim eu sou, mais me vejo acompanhado nessa solidão e, com isso, posso devanear e escrever sobre esta menina, sobre esta mulher...

...sobre cada um de nós.



Marcelo de Paula


Uma canção para sossegar a alma...