sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Muito além dos devaneios...


"...Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus." (Apocalipse 2:7)




 Em meio a tantos devaneios, textos e mais textos, frases e mais frases, me tenho feito conhecer. Ao menos tentado.

Não receio mostrar-me, me exibir sim.

Não se trata de exposição, não da minha pessoa, mas de meu objeto literário.

Faço isso por duas razões muito simples, perceber-me igual e também fazer-me perceber.

Não sou mais nem menos, sou humano.

Intento eliminar a distancia que há entre mim e meu próximo.

Poucos são os que pensam sobre isso e os que não o fazem, refletem uma imagem distorcida de si, oscilando entre os extremos da inferioridade e superioridade. 

Não se reconhecem no mundo e muito menos no outro. Cooperam com a produção de uma sociedade de estranhos.

Aliás, esse é um dos males de nosso tempo, uma sociedade individualizada... Devotos de si mesmos.

O outro é diferente demais, me contradiz nas minhas certezas, usurpa o meu Olimpo. Citando Sartre, “é o inferno”.

Deus, ao assumir a forma humana na pessoa de Jesus Cristo, segundo nossa fé cristã, fez do outro sua causa única. De toda a obra do Criador, somente o homem foi feito à sua imagem e semelhança.

“Deus amou o mundo de tal maneira...”, escreve S. João, apóstolo.

O homem pisar na lua foi um feito fantástico, sem dúvida, mas Deus pisar na terra foi algo inigualável.

Isso tem que nos dizer algo...

Deus veio por causa de nós e só de nós, obra prima de suas mãos.

Assim, só podemos concluir que os extremos a que nos subtemos, hora sentindo-nos semideuses hora "seminadas", não passa de um desvio de propósito em nossa existência.

O objeto literário que perpassa todos os meus textos e frases, implícita ou explicitamente (raramente) não é outro, senão Deus.

Pra mim está claro e cristalino que não há projeto humano que se sustente enquanto não houver esta volta para Deus.

Esta decisão individual que reflete no coletivo é a única forma de humanizarmos uma sociedade divorciada do amor, da fé e da esperança.

Infelizmente, as religiões em geral burocratizaram a relação com o divino.

Estabeleceram hierarquias e determinaram as formas, mas Jesus disse:

“Vinde a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”.

Arrependimento, no entanto, é uma pré-condição. 

Arrependimento por termos erigido altares em nossos corações para cultuarmos, dentre tantos outros deuses, nossa própria autossuficiência corrompendo assim nossa existência
.
Nada somos sem Deus e se o próprio Deus se fez humano, o fez movido por amor, um amor que está além de nossa capacidade de compreensão.

Amemos a Deus, portanto, sobre todas as coisas e o nosso próximo como a nós mesmos, para então experimentarmos uma nova dimensão do existir...

...muito além dos devaneios.


Marcello di Paola


Amazing Grace interpretado por Andre Rieu


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mau é não viver...

"Eis que eu faço novas todas as coisas" (Apocalipse 21:5)



Não viver é um desperdício...

Não viver é loucura... é desrespeito...é ingratidão.

Como não viver estando vivo?

Mas o que é  viver? Antes disso, o que é a vida?

A vida é algo que obtemos sem pedir, e talvez por isso achamos que nos pertença, podendo fazer dela o que bem quisermos.

Nada pode estar mais longe da verdade...

Prova maior disso é que ninguém está satisfeito com a própria existência.

Parte considerável de nosso tempo é gasto mantendo nossas vidas ocupadas com sua própria manutenção sem sentido.

Uma espécie de fuga de um fato que queremos evitar, mas que cedo ou tarde nos confrontará inevitavelmente, ou seja, nossa vida não nos pertence.

Nada sabemos sobre sua duração e o que nos sobrevirá...isso angustia...

Nos leva a querer aproveitar cada instante vivendo intensamente, mas com a sensação onipresente de que ainda não é o suficiente.

A vida é mais que isso, repetimos... inconformados, pra nós mesmos.

Os poetas se põem a escrever...

Os músicos compõem...

Os filósofos devaneiam...

Todos compartilham do mesmo pensamento...mau é não viver...

...e quantos não estão vivendo, mas pensando que estão.

A vida não pode ser plena enquanto separada de seu autor...

Preencheremos vazio com nada e seguiremos vivendo sem viver.

O fato é que tudo que há em nós precisa ser mudado.

Mudado para ser moldado, segundo aquele que nos fez a todos.

A vida nos foi dada e não soubemos o que fazer com ela...

Entregá-la sem reservas ao seu genuíno dono e autor, é o mais sábio a se fazer para os que não mais querem ser igual.

Marcello di Paola




Dedicado especialmente  à minha amiga poeta Fernanda Guiterio

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Recomeços...

"As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos...Renovam-se a cada manhã." (Lamentações 3:22,23)


Todo dia é dia de recomeçar...

Mesmo que estejamos cansados, mesmo que estejamos descrentes...

Ainda que nos sintamos sós e incompreendidos.

Se o dia nos amanheceu...se ele nos recepcionou com chuva ou sol, frio ou calor, é porque nos foi dada a chance de recomeçar...

Recomeçar para servir e assim resignificar nossa existência.

Viver é um aprendizado constante e por alguma razão misteriosa, somos alunos mais bem aplicados diante das provações que nos devoram a alma, que em meio aos prazeres que nos viciam os sentidos.

Quantas vezes nos assombra o medo de perder as forças que ainda temos...

Quem já não esteve prestes a sucumbir, quando sem saber como ou porque, foi revitalizado?

É a vida que se recria, que se reinventa como fruto da graça divina.

Cada segunda que inicia a semana, cada dia que inicia o mês, cada mês que inicia o ano, cada manhã que sucede a noite, cada aniversário que fazemos, são chances, são recomeços, são oportunidades para fazermos a vida acontecer melhor.

Não se permita jamais ficar debruçado diante da dor e do sofrimento, e nem desanimado na ausência de respostas, pois em momentos assim é que nossa fé é nutrida de esperança.

São momentos em que nossa alma fica mais perto de Deus.

Se a chuva não veio e a colheita se perdeu...

Se a esperança se converteu em luto...

Se ninguém te viu chorar no auge da amargura...

Se sonhos ruíram feito castelos de areia...

Se as coisas não aconteceram como esperado...

Conserva a paz, pois sempre é tempo de recomeçar.

Mas recomece junto daquele que nunca teve começo...

Daquele que no silêncio da sua presença nos afaga a alma e nos renova a cada recomeço.

Deixo com vocês essa linda canção do hinário da CCB, para devanearem comigo em meio a paisagens tão lindas e confortadoras esculpidas pelas mãos do Criador.

Marcello di Paola




Dedicado especialmente à minha grande amiga Luciana Ribeiro

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Presente de Deus

"...mas servi-vos uns aos outros pelo amor." (Carta de S. Paulo, Apóstolo, aos Gálatas 5:13)



Pela fresta da cortina, ainda com olhos semi cerrados, percebi que era manhã de sol.

Elevei meu pensamento a Deus numa breve oração pedindo forças para  enfrentar mais uma semana.

Chega uma fase em nossas vidas que custamos a perceber as novidades. A vida parece acontecer de forma previsível, em movimentos repetitivos, tediosos...quase automáticos.

Nossa sede de existência é muito maior do que ela nos pode suprir. Não é por acaso que quando adultos, nosso mau humor sucumbi diante de uma criança alegre.

É tão mais fácil caminhar sem o acúmulo dos dias...

Sem a soma das desilusões e dos castigos que nos infringimos...

Sem as cicatrizes que nos lembram dores já superadas.

Viver por viver já não nos basta...precisamos de sentido. Não só de direção, mas para ser...

Precisamos do ar não só para respirar, mas também inspirar...

Precisamos das flores não só para nos seduzir os olhos, mas para nos perfumar a alma...

Precisamos do outro não só pela companhia, mas para sermos notados e também notar...

O ser humano é assim... tal como uma caixa de presente...

Por linda que seja, só fará sentido se o conteúdo for acessado.

Somos presentes de Deus uns para os outros...

Somos surpresas que mudam destinos...

Somos respostas a orações feitas em lágrimas.

Desconhecemos nosso potencial para ser benção...

O outro sente...de alguma maneira percebe o nosso afeto e carinho.

Não há tédio que resista a tamanha reflexão.

O sentido da vida jamais será encontrado na introspecção egoísta, mas é bem possível que o seja na prontidão em servir, acolher e amar incondicionalmente...

Por menor que julguemos ser nossa luz, ela pode ser como o sol do meio dia para quem sofre mais que nós.

Aprendi hoje que a força para viver consiste em pensar mais no outro do que em mim mesmo...

Que uma vida bem empreendida não é uma vida intensa em si mesma, mas uma vida que se intensifica no altruísmo genuinamente cristão...

É uma vida que se presenteia, que se doa, que se entrega... assim como Cristo fez por cada um de nós...

Bendita manhã de sol.


Marcello di Paola

Dedicado a Marcela Yanne

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Certeza do amanhã...

"Tudo fez Deus formoso em seu devido tempo, também pôs a eternidade no coração do homem..." (Eclesiastes 3:11)
    


Há uma grande contradição na condição humana...

Seu anseio pelo infinito e a realidade de sua finitude.

Há algo que não cabe dentro de nós, algo que não conseguimos nomear, mas que sentimos...

Uma espécie de sede insaciada ...

de fome não matada...

de amor não vivido...

de sacrifício não aceito...

de oração não atendida...

Um tipo de vazio que nos fustiga a alma de incertezas...

Uma sensação incômoda de que a vida é mais do que se tem vivido.

O fato é que a condição humana nos impede de sermos plenamente felizes.

O que muitos chamam de felicidade eu chamo de torpor, aquela espécie de felicidade que não nos permite

pensar serenamente sobre nossa finitude.

Mas, por mais que tudo nos vá bem, nos falta a certeza...

A certeza do amanhã.

Amanhã, como será?

Não importa, dirão alguns...viva o hoje, intensamente.

Mas viver o hoje intensamente implica em fechar os olhos para realidades outras.

Por mais que não lembremos, somos uma irmandade terrena.

Viver é um exercício difícil para quem não é egoísta.

Se a lágrima do outro já não não me comove...se só sou capaz de chorar pelos meus mortos, preciso

desesperadamente de um toque divino.

Tenho certeza que Deus nos pensou infinitos.

A morte é uma invenção humana.

É certo que fomos feitos para ser felizes, para descansar em Deus em meio às incertezas do amanhã, porém,

no usufruto de nosso livre arbítrio, optamos por nos desvencilhar do Criador.

Na ânsia de sermos como Deus cavamos nosso abismo existencial e nos perdemos de nós mesmos.

Na ausência de Deus não há certeza de nada e a esperança, moribunda, desfalece.

Mas, se Deus pôs a eternidade no coração do homem, segundo o Pregador, nosso anseio pelo infinito vai

de encontro ao projeto divino.

Assim, nossa incompletude se finda no reencontro com o Mestre, e, por mais incerto que o futuro se nos

apresente, podemos descansar na certeza de que...

Se ELE vive, podemos crer no amanhã.


Marcello di Paola




Dedico este devaneio à minha querida amiga Luandrade





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Carinho de Deus...

"Ele rega os montes desde as suas câmaras; a terra farta-se dos fruto das suas obras"
(Salmo 104:13)


Por mais que a vida nos presenteie com toda a beleza que há no mundo...

Por mais que tenhamos filhos e amores, saúde e amigos...

Nem mesmo sabemos porque...mas lá no fundo, bem lá no fundo, nos falta algo.

E saímos por aí embriagando-nos de poesia e nostalgia, esforçando-nos para sorrir e cantar, porque é

razoável que seja assim...

Mas a nós mesmos não enganamos... falta algo.

Tomamos caminhos errantes, ainda que quase sempre belos...

Ainda que cenários de paisagens em esplendor enalteçam nosso momento crucial, o encontro da gente com

a gente mesmo, nada pode ser mais doloroso...daí evitarmos nos encontrar.

Até onde alcança nossa vista tudo é lindo e formidável...e até onde vai nossa ilusão, tudo é possível.

Que culpa pode haver no coração que anseia mais do que tem?

Assim é o ser humano...assim sou eu e você, que me lê...assim..somos nós.

Almas inquietas em corpos finitos que anseiam uma eternidade com sentido.

Nos culpamos pelo "algo que nos falta", mas se nada nos faltasse o que buscaríamos?

Temos uma grande necessidade de sermos compreendidos...de sermos lidos nos olhos, porque falar nos faz

sentir fracos e mendicantes de atenção.

Mas ler a alma humana pela janela dos olhos não é tarefa das mais fáceis para um igual.

Daí...

a beleza que nos cerca, a brisa que nos beija a face, o cheiro da natureza, a  paz momentânea e inexplicável

que nos invade, o alívio diante da dor, o conselho mais que oportuno, o pão que nunca falta, a vida em

família, a legião de amigos, os momentos agradáveis que todos vivemos...

Manifestações do carinho de Deus que nos fazem lembrar que tudo que precisamos, Ele nos tem dado.

Deus tem todo o tempo do mundo para nós...

Todo o tempo para nos ouvir, todo o tempo para passear conosco, seja em volta do lago, seja na areia da

praia ou mesmo nas vielas dos labirintos de nossos sofridos corações...

Quanto mais de Deus houver  em mim, menos de mim haverá...

e quanto menos de mim houver...

mais o carinho diário de Deus me bastará.


Marcello di Paola



Dedico este devaneio a Ana Steiner. Grato pela sugestão do tema.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Surpresas da vida...

"Alegrem-se teu pai e tua mãe, e regozije-se a que te gerou" ( Provérbios23:25)


É tão bom quando a vida nos surpreende...quando nos arranca um sorriso espontâneo... que perdura.

Foi esse o efeito em mim causado  por essa imagem...um momento mãe e filha que não é flagrado a todo
instante, não obstante sabermos que tais momentos se multiplicam na privacidade dos lares.

Em dias tão perturbados onde o terror nos estupra a alma e o medo nos assedia, uma imagem dessas nos
faz lembrar que a vida não é só dissabores.

A vida pode ser, sim, como num conto de fadas, feita de felicidades para sempre, quando nos permitimos mergulhar no universo infantil e dele desfrutar, por minutos que sejam.

Ah, como a corrida pela sobrevivência nos tem privado de momentos mágicos...

Como temos permitido às lágrimas usurparem o lugar da alegria em nossas faces descrentes...
descrentes da fantasia que faz do mundo infantil, um planeta de sonhos onde tudo é possível...
descrentes da utopia que aposta numa sociedade melhor à partir da reciclagem de nós mesmos...
descrentes até das palavras do Filho de Deus que afirmou ter vindo ao mundo para nos trazer uma vida abundante.

E que abundância de vida eu vejo nesta imagem, neste encontro das  formas de amor mais sublime que
existe...mãe e filha interagindo alheias à plateia que os rodeia e certamente os admira.

Fico pensando no sentimento de Cristo, quando repreendeu os discípulos que,  em seu excesso de zelo, impediam os pequeninos de se aproximarem...

"Deixai-os, não os embaraceis", disse o mestre...

Jesus sabia que a alegria da criança é o que melhor expressa o sentimento divino em relação às suas criaturas.

Estou certo de que a vida nos reserva muitas surpresas, e parte delas nos passam desapercebidas na medida em que deixamos de viver intensamente cada momento.

Quantas surpresas nos aguardam no âmbito da vida familiar...

Quantas surpresas pelos caminhos que trilhamos cotidianamente , mas que o tédio não nos permite vislumbrar...

Surpresas como esta imagem que me encantou, me emocionou e me conduziu nesse gostoso devaneio, o
qual encerro apropriando-me de um trecho da música "My Way", pois a reflexão sobre a história da nossa
vida tem que nos levar ao ponto de dizer:

Valeu a pena.

"Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive minha parte nas derrotas
E agora, conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido".


Marcello di Paola



Dedicado a Camila Roman de Moraes, Muito obrigado por me ceder a foto.