segunda-feira, 11 de junho de 2012

A solidão de Deus...

"E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactâni...(Evangelho de São Mateus 27:46)




Quero devanear hoje na companhia dos que se sentem sós...

Preciso da companhia dos solitários para que minha solidão não se sinta tão só.

Bem vindo leitor amigo, à comunidade dos solitários, o mundo dos humanos... que mentem a si mesmos quando não se percebem sós!! Que lançam mão de paliativos que lhes anestesiem a alma como fuga de sua realidade existencial.

Se serve de conforto eu não sei, mas sentir-se só não é o mesmo que estar. Ambas as situações, no entanto, corroem por dentro...faz doer a alma e desesperar o coração.

Por que é que me sinto tão só hoje, se ontem mesmo estava em festa? O sorriso fácil, a conversa farta, a onipotência que de mim emanava? Pra onde foi tudo? Pra onde foi todos?

Onde estão meus ansiolíticos?!

Ah, coração inquieto...sossega, rapaz! Lerei uma poesia...ouvirei uma música clássica...relembrarei de amores insanos...deitarei e dormirei (tarde chuvosa de segunda, sombria e fria)...acordarei melhor!

"Quero lhes falar sobre a solidão de Deus...O Deus que criou o céu e a terra e tudo o que há neles...
Isso mesmo...vocês me entenderam bem, Deus já esteve só! Não me refiro, entretanto, à pré criação quando nada ainda havia, pois Deus subsistia eternamente numa Trindade misteriosa...Falo de uma solidão pontual...de um momento no tempo, no qual precisamos recuar afim de percebermos que sofremos por nada. Nossa solidão é nada comparada à solidão que Deus experimentou.
Era uma sexta feira...desde a hora sexta até a nona houve trevas sobre toda a terra...relâmpagos cruzavam o céu iluminando o palco da tragédia humana, e em meio a trovões ensurdecedores ecoa o clamor de um Deus solitário:

ELI, ELI, LAMA SABACTÂNI!!!

Enquanto aqui prego pra uma legião de solitários, ainda posso ouvir ecoar no tempo, atravessando os séculos ELI, ELI, LAMA SABACTÂNI!!!

DEUS MEU, DEUS MEU, POR QUE ME DESAMPARASTE?!!!

Jesus, na cruz, não experimentou tão somente o suplício infringido por seus sofrimento físicos.
Ele sofreu o suplício da solidão no mais alto grau, ao ser abandonado não só pelas multidões que antes lhe seguiam e a quem tanto amava, mas pelo seu próprio Pai que com ele esteve na criação.

O que é solidão, pois, meu caríssimo solitário, pergunta o pregador...O que você sente, ou o que Jesus sentiu na cruz?"


Suas palavras varavam-me a alma como agulhas, mas ele continuava:


"A bíblia, sim, a bíblia que você tem em casa diz que Deus é tão puro de olhos que não pode ver o mal, e a iniquidade não pode contemplar...
E Jesus, o que fez? Aquele que não conheceu o pecado se fez pecado por nós...
Ao abrir os braços naquela cruz, Jesus abraçou nossas culpas, nossas dores, nossos pecados, nossa solidão, pois a solidão não decorre de outra coisa que não do afastamento de Deus!!!


Solidão é ausência de Deus!"


Se o pregador terminasse ali, julgo que já teria compreendido a mensagem, mas ele prosseguiu:


"Quereis se ver livre da solidão, oh pobre solitário? Primeiro tereis que se vos apresentar à verdadeira solidão! Tereis que ir até a cruz, o lugar mais solitário do universo...o lugar de onde Deus se ausenta.
Sim, por paradoxal que seja, é pra lá que deveis seguir...
Por que a cruz é solitária? 
Porque ninguém quer ir para lá.
Cruz é vergonha, cruz é infâmia, cruz é horror, cruz é condenação, cruz é autonegação, cruz é humilhação, cruz é escárnio...cruz é solidão!
A cruz é um lugar tão solitário que nem o que nela foi crucificado se encontra mais lá...
Mas é para lá que se deve dirigir todo o que quiser se ver livre do tormento da solidão, pois nessa solidão consciente, meditada, refletida é que se encontra o Salvador.
Os pecados que afastavam Deus de você, oh solitário, foram assumidos pelo Cristo.
Tudo está consumado!


O pregador silencia, enfim, e com ele minha alma tão inquieta...


Como previ, acordei melhor...


Acordei Vivo.


Marcello di Paola


Adaptação de pregação por mim ministrada na Assembléia de Deus Diante do Altar em São Bernardo do Campo em 09/06/12

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quando não se espera mais...

"Esperei com paciência no Senhor e Ele se inclinou para mim..." (Salmo 40)


Quando não se espera mais, parece que a vida perde o encanto...
os pássaros silenciam...as folhas não dançam ao vento...o som da chuva aborrece.

Quando não se espera mais, a lua entedia...as estrelas se ofuscam...
...os bichos se entocam.

Quando não se espera mais, a inspiração não vem, os poros não abrem...
...os lábios não curvam.

Quando não se espera mais, os olhares não cruzam...o coração não dispara...
...a beleza se esconde.

Quando não se espera mais, faltam assuntos...sobra vazio...
...a poesia não rende.

Quando não se espera mais, o telefone não toca...a voz emudece...
...a vida estremece.

Quando não se espera mais, a fé se enfraquece...o milagre não acontece...
e a paz desvanece.

O fato é que a gente cansa de esperar...
Esquecemos que a esperança é que move a vida.
Deixamos de esperar com medo de não vir, mas isso é esperar sem esperança.

Uma vida que não mais espera é uma vida que não se justifica.

Não deixe nunca de esperar...

Dizem que a esperança é a última que morre...nesse caso, que morramos esperando...

Mas esta espera só faz sentido se estiver bem ancorada...

O salmista nos ensina a esperar com paciência no Senhor!

É isso aí, esperar em Deus...!

Ele, que é o Senhor da vida e do tempo!

Quando se espera em Deus, a natureza celebra...os pássaros cantam em seu louvor...
Tudo conspira em teu favor.

Quando se espera em Deus...a lua enche o céu, as estrelas lhe piscam feito olhos de anjos...

Quando se espera em Deus, tua alma refresca...teu corpo descansa...o sorriso retorna.

Quando se espera em Deus...
...a esperança não morre jamais.


Marcello di Paola


terça-feira, 5 de junho de 2012

Sobre escrever...

"Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e o ensino é a retidão, palavras de verdade". 
(Eclesiastes 12:10)




Escrever pra mim é uma experiência...
Não sou poeta nem cronista...sou um abusado.
Simplesmente atrevo-me a escrever... não para ter meu nome entre os grandes, mas se a pequenez de meus textos tocar alguma alma, me terei por gigante.
Não escrevo para mim...escrevo de mim...
De minhas paixões e amores, de minha fé e ceticismo...de meus acertos e erros...de ilusões e desilusões que moldaram meu ser..
Sou produto de uma vida intensa e vazia...
Intensa de reflexões, intensa de música e de poesia, intensa de sorrisos e lágrimas...de encontros e desencontros, de delírios e melancolias, de chegadas e despedidas, de convites e recusas...
Eu escrevo pra esquecer e pra lembrar...pra permanecer e esvair...escrevo pra quem quiser ler e apreciar, mas também pra quem quiser ler e cuspir...
Vazia de significação em cada intensidade...
Não dependo de elogios nem de críticas para ser eu mesmo.
No ato de escrever não sou interrompido, posso falar de tudo que tá engasgado na minha alma.
Escrever me liberta, me oxigena o espírito, me faz sentir vivo...
Quão bom é devanear...é a droga que me faz suportar...
Escrevendo me mostro ao mundo me escondendo nas letras.
Apresento Deus aos loucos me assumindo como tal...
Sou uma incógnita, sou o pregador...
...sou igualzinho você.

Marcello di Paola...