sexta-feira, 30 de março de 2012

Simplicidade

"...o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices." (Salmos 19:7)




O mundo se tornou por demais complexo...e a vida também.

As pessoas se escodem umas das outras em máscaras devidamente ajustadas em rostos rejeitados pelo espelho.

Há todo um condicionamento social  fundamentado em referenciais de ilusão.

As relações se burocratizaram na sociedade do capital, onde Mamon* erigiu seu templo densamente frequentado.

O  simples se tornou sinônimo de ultrapassado e antiquado...velho, gasto e indesejado.

Não sejamos hipócritas a ponto de  negar os benefícios da modernidade e das novidades tecnológicas, mas também não sejamos levianos em não admitir que nos divorciamos da simplicidade.

Tudo tem que ser sofisticado para impressionar...do sorriso à entonação da voz.

Do cardápio à mesa ao convite aos impressionáveis.

Da cantada à poesia .

Eu vejo muita sofisticação na simplicidade das relações. Aliás, "simplicidade é o máximo da sofisticação", profetizou Da Vinci.

O mundo, porém, dá voltas...e nesses rodopios globais, aos poucos vamos nos dando conta da falta que faz as coisas simples, como passear pelas  ruas do bairro numa tarde qualquer, cumprimentar os vizinhos com um sorriso franco, surpreender alguém com uma ligação apenas para saber como está...

Entrar na fantasia dos filhos e conversar com o amigo imaginário...trocar o figurino de adulto carrancudo pelo da criança que ri quando vê graça.

Uma sociedade não adoece da noite para o dia...
fomos perdendo nossa humanidade ao longo de gerações e hoje estamos irreconhecíveis.

Não nos vemos mais no outro. Não compartimos da dor alheia, não a ponto de assumi-la, como Cristo fez.

O outro tem que ser superado por mim, para que eu me sinta alguém... Essa é a tônica dos dias pós modernos que nos fazem olhar para dentro de nós e não ver, senão o vazio.

Precisamos desesperadamente nos livrar dessa auto imagem distorcida.

Precisamos voltar à simplicidade...apreciar as coisas realmente bonitas e os gestos que engrandecem.

Reaprender a ver as marcas do tempo impressas em nós como um memorial à dadiva da vida, e não como um mal a ser removido com a destreza do bisturi.

Precisamos alterar drasticamente nossos referencias de vida...

Ser simples não é um culto à pobreza, mas não sacrificar mais a Mamon*...

Ser simples é se deixar contagiar pelo riso sincero da criança pobre, e dela se compadecer.

Ser simples é ver o outro para enxergar gente, e não valore$...

Ser simples é divertir-se sem ostentação...é socializar a diversão de modo que todos se divirtam.

Ser simples é repartir a felicidade, ou preferir viver sem ela, se for para tê-la sob a platéia dos tristes.

Ser simples não é se desprover do glamour, mas se prover dos outros... tal como são.

Ser simples é ser como Deus nos idealizou, pois...

na simplicidade cultivada  e compartilhada somos imagem e semelhança de Deus...

Na altivez de espírito que diminui o outro para nos destacar, somos imagem e semelhança de nós mesmos...

...e de nós mesmos estamos cansados.

Marcello di Paola

*deus da fortuna.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Dia de chuva...

"Ele dá a chuva sobre a terra, e envia águas sobre os campos" (Livro de Jó 5:10)



Dia de chuva...

muitos não gostam, outros curtem.

Eu pertenço ao segundo grupo.

A chuva é o que melhor ilustra meu temperamento...

Me lembra aconchego e aconchego me lembra companhia...não necessariamente de pessoas, mas de coisas que me fazem sentir bem...

Um bom livro, meu violão, meus devaneios...e por vezes, pasmem...eu mesmo.

Ah, a chuva refresca...e seu frescor me ventila a alma...prefiro contempla-la que senti-la...

O cenário que a envolve, geralmente acinzentado, tem mais a ver comigo e minha alma melancólica.

Não desprezo as cores, mas eu sou preto e branco e quase sempre, preto no branco.

Olhar da janela ou da varanda, não me faz diferença...

Vejo a chuva como benção quando está sob controle.

Chuvas torrenciais, já não me dá prazer...por conta da destruição que provoca onde cai.

Assim como palavras impensadas de coração em fúria que arrasta em descontrole tudo que um dia foi amor.

Gosto da chuva serena, que cai mansa...que molha a  terra na medida e não agride as plantações...

Gosto da chuva que convida a um café com bolinhos, claro, de chuva.

A chuva que nos convida a esquecer a pressa e prosear gostoso sobre tudo e sobre todos.

Dia de chuva, seja bem vindo, pois és dádiva divina...

És cenário que fascina...limpa o ar e lava em nós tudo aquilo que arruína.

Um bom dia de chuva começa dentro da gente...

Com a firme disposição de não reclamar.

Que a chuva caia sobre ti, sem no entanto, te agredir...

Apenas pra lhe convencer que melhor que chorar...

...é sorrir.


Marcello di Paola


terça-feira, 27 de março de 2012

Estar junto...

"Oh quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união" (Salmo 133:1)



Estar junto é mais do que estar perto...
.
é estar sempre.

Quantas vezes deixei de estar presente...sem contudo estar ausente.

Eu gosto desses momentos que se eternizam, pois eles são verdadeiros...

Afaga a alma curti-los na lembrança e enaltece as relações procurar reproduzi-los.

Fomos feitos para ser...fomos feitos para estar...

não importa a maneira, fomos feitos pra ficar...

ficar junto um do outro, ficar junto com os outros..

Fazer valer a intenção do Criador em nos multiplicar.

Nos precisamos mutuamente, seja pra rir ou chorar...

mesmo que para brigar pra logo depois perdoar.

Ninguém vive sem alguém, pode até sobreviver,

mas no fundo, bem no fundo, o desejo é de morrer.

Estar junto nos completa, nesta gloriosa irmandade,

Qual sentido de estar só pelas esquinas da cidade?

Vem comigo companheiro, meu amigo, meu irmão...

desfrutar de um bom silêncio ou do som de um violão...

O importante é estar junto em qualquer situação.

Estar junto é mais do que estar perto...

...é estar sempre.


Marcello di Paola

segunda-feira, 26 de março de 2012

O vale da sombra da morte...

"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo"... (Salmo 23, de Davi)






"A morte é a meta da nossa vida; é o objetivo fatal", refletiu Michel de Montaigne, em certa ocasião.

"Vão, vêm, pulam e dançam; e da morte nenhuma palavra", prossegue o filósofo.

"Tudo isso é muito bonito, mas quando ela chega e os alcança, ou a suas mulheres, filhos e amigos, surpreendendo-os subitamente e sem preparo de espírito, quantos tormentos, gritos, desesperos! Como ela os esmaga"!


Me aproprio de Montaigne  para devanear sobre a experiência universal e inevitável da morte.

Nada há mais democrático nessa vida...e também, banalizado, ao menos enquanto se ocupa de outras presas.

O fato é que morte acolhe a todos.

Alguns talvez parem a leitura por aqui, mas seguirei devaneando...com os mortais.

Sei, enquanto aqui escrevo, que não poucos estão atravessando esse vale, não obstante tratar-se de uma experiência solitária.

Valentes juram não temê-la...

Como, porém, não temer o que o próprio Cristo temeu? "Pai, se possível afaste de mim esse cálice"

O salmista considera a hipótese de não temê-la...a condicional, no entanto, o trai...(ainda)...

Não precisa estar convalescente de uma enfermidade grave para conhecer o vale tenebroso, ou mesmo ligado a aparelhos em função de um acidente. Basta que se esteja vivo. Muitos passeiam por esse vale em plena vida...

Plena?

São pessoas que vivem no passado ou futuro, mas que não suportam seu presente. Pobres almas que não leram o cético humanista Montaigne, nem o homem segundo o coração de Deus, Davi.

A morte não é pra ser temida e muito menos desejada, mas pra ser considerada sem traumas, na medida da percepção de sua inevitabilidade. Como bem disse Fernando Pessoa "O homem é um cadáver adiado"

O que aflige a muitos nem é a morte em si, mas a sua forma...como se dará, e a consequência direta sobre  os seus, que ficam...ocupar-se com isso é antecipar o próprio luto...é velar a si mesmo...é perder a oportunidade de viver a curta vida. Numa palavra, inútil.

A morte só enche de desespero quem não sabe o que esperar para além dela...Alguns nem o nada espera.

Cristãos, como este pregador que vos escreve, também vivenciam o dilema da hora derradeira, mas guardam uma certeza que a faz serenar...

S. Paulo, Apóstolo, escreve aos romanos:

"O salário do pecado é a morte, mas os dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus".

Vida eterna...?

Sonho, utopia, devaneio... Seja o que for é uma esperança, e só espera, quem vive.

Não permita que o desânimo lhe mine a vida que ainda pulsa. Agarre-se à vida. Tenha-na como um presente de Deus.

Reaja, pois...

Termino esse devaneio como comecei, com Montaigne:

"Nascemos para agir...quero agir sem cessar e que a morte me encontre plantando as minhas couves sem pensar nela e menos ainda na imperfeição de minha horta."




Marcello di Paola

sexta-feira, 23 de março de 2012

Quando nem mesmo a gente se entende...


"Já estou cansado dos meus gemidos...molho o meu leito com as minhas lágrimas"  (Salmos 6:6)






Não, não fique aborrecido(a) com você mesmo(a)

Só porque o sorriso não emoldurou os teus lábios
Só porque não está quem queria ao teu lado
Só porque o sol nasceu, mas não aqueceu
Só porque o canto entoou, mas desafinou
Só porque o espelho te falou a verdade
Só porque o botão não cumpriu sua função.

Não, não se sinta tão irritado(a)

Só porque o choro perdurou mais que devia
Só porque o tempo foi curto pra o que queria
Só porque o trem já se foi da estação
E com ele também parte do seu coração.


Não, não fique desnorteado(a)

Só porque há caminhos alternativos ao seu
Só porque a vida não se resume ao seu eu
Há tantas possibilidades para acontecer
Basta apenas você gostar de viver.

Ah, eu sei bem como é isso

Quando nem mesmo a gente se entende
Quando tudo que faz depois se arrepende
Mais eis que o sol nasce de novo
Encontra nossa pele disposta
Um novo dia então se anuncia
Trazendo com ele resposta.

Não, não fique tão empolgado(a)

Viver é um desafio, afinal
Nem tudo que parece ruim é tão mal
Nem tudo que parece bom é banal
A vida acima de tudo é um dom
Mesmo quando não dá pra entender
Junte-se a mim nesse caso
Vamos juntos aprender a viver.


Marcello di Paola


quarta-feira, 21 de março de 2012

Empatia...

"E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne". (Profecia de Ezequiel )


Na selva de pedras em que habito a mais de quarenta anos, minha luta constante é por manter-me humano.

Não tem sido fácil, confesso.

A tendência de enxergar o outro como monumento num cenário urbano acinzentado,  está sempre presente.

Há movimento, mas falta vida... cor... falta pulsação.

Os sorrisos existem, mas soam "botoxizados ".

Gentilezas não passam de meras formalidades...diálogo de máquinas.

Fomos condicionados na sociedade do capital, neutralizar sentimentos e ver o próximo como obstáculo a ser superado.

Como envaidece o coração dos deuses sádicos olhar do olimpo um mar de humanos desumanizados, cercados de montanhas espelhadas forjadas no aço frio e no concreto da indiferença...!

Porém, num exercício esforçado de cada um de nós, ainda é possível plantar árvores na paisagem desolada que descuidadamente cultivamos.

Gestos, pequenos gestos humanizadores podem funcionar como sementes germinadoras de esperança, desencadeando todo um processo viral de mudanças necessárias e bem vindas.

Penso que Deus está disposto a colaborar conosco nesse esforço hercúleo.

Havendo de nossa parte real disposição de romper com os grilhões que nos aprisionam, temos de sua parte a promessa de...

...um coração novo.

...um espírito novo.

Somente essa combinação pode nos levar de volta ao estado de  perfeição original, no qual fomos concebidos pela mente criadora;  e, olhando em volta, ver pessoas de carne e osso, que como eu, precisam do outro para ser feliz.

Ao conhecer alguém receba como ele é...é surpreendente ser o que é.

Marcello di Paola

terça-feira, 20 de março de 2012

Gravidez às avessas...

"Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo"  (Jesus Cristo, segundo o Evangelho de João)


Quantas vezes julgamos nossas dores insuportáveis, até que descobrimos que outros suportam dores ainda mais intensas.

Mas a dor é a dor de cada um, como dimensionar?

Minha alma dói apenas de saber que a do outro está doendo...que assim seja sempre...

Não, não é masoquismo, mas a constatação de que enquanto for assim, ainda sou humano.

Devaneio nessa madrugada com a dor do outro, no caso, o músico Bruno Gouveia, que perdeu seu filho num acidente de helicóptero em Trancoso na Bahia em junho passado.

***

Para meu filho Gabriel† 10-08-08 / 17-06-11


PARTIDA

a morte de um filho
é uma gravidez às avessas
volta pra dentro da gente
para uma gestação eterna

aninha-se aos poucos
buscando um espaço
por isso dói o corpo
por isso, o cansaço

E como numa gestação ao contrário
a dor do parto é a da partida
de volta ao corpo pra acolhida
reviravolta na sua vida

E já começa te chutando, tirando o sono
mexendo os órgãos, lembrando o dono
que está presente, te bagunçando o pensamento
te vazando de lágrimas e disparando o coração,

A morte de um filho é essa gravidez ao contrário
mas com o tempo, vai desinchando
até se transformar numa semente de amor
e que nunca mais sairá de dentro de ti.

Bruno Gouveia
(Biquíni Cavadão)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Coração de cristal...

"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida". (Provérbios 4:23)



Ao andarmos pelas ruas, calçadões e avenidas, vemos corpos, silhuetas, às vezes rostos, mas nunca corações...

Alguns vêem, mas são raros.

Tema frequente na rima dos poetas,  alvo certeiro de pequenos deuses alados que vitimam pobres desavisados, o coração foi sempre descrito em  metáforas, na tentativa de traduzir aos humanos seus enigmas.

Fonte de mistério inesgotável,  é a parte frágil da nossa existência. Muito mais que um músculo que bombeia o sangue que nos assegura a vida, é lugar onde habita sentimentos, emoções e expectativas.

O coração, esse depósito de sensações que nos faz humanos, não tem sido muito bem cuidado, e isso, tanto pelos que o levam no peito, como por aqueles que deveriam preservá-lo. Sim, o coração do outro é parte de mim. Nisso consiste o segundo grande mandamento de Deus que diz para "Amar o próximo como a si mesmo".


Como é envolto pelo abstrato, não raro se engana, isso quando não se corrompe...

O mesmo coração que ama é capaz de odiar...

O mesmo coração que acolhe é capaz de desprezar...

O mesmo coração que se encanta é capaz de desencantar...

O mesmo coração sensível é capaz de embrutecer...

Mas...

O mesmo coração que resiste é capaz de se entregar.

O fato é que "Enganoso é o coração...quem o conhecerá"?

"Guarda o teu coração", adverte o proverbial pregador..."porque dele procedem as fontes da vida".


Tempere as palavras ao dirigi-las a alguém, pois ali tem um coração que ouve.

Seja verdadeiro em tudo para com seu próximo, pois ali tem um coração que sente.

Sorria com um riso sincero a todos em sua volta, pois vários corações te vêem.

Encontre tempo para quem precisa, pois ali tem um coração carente.

Não iluda seus semelhantes, pois não são poucos os de corações crédulos.

Não brinque com os sentimentos de ninguém, pois muitos são os corações apaixonados.

Vejo um cuidado especial de Deus para com o nosso coração...

Ele nos fez do pó da terra, mas tenho comigo que o coração ele aprimorou em cristal...

Tenha cuidado com o seu coração e também com os dos outros...

Fazendo isso estou certo que...

"A Paz de Deus que excede todo entendimento guardará os vossos corações e a vossas mentes em Cristo Jesus" (Epístola de S. Paulo, Apóstolo à igreja em Filipos).

De coração,

Marcello di Paola


Pra vocês...


Paulinho da Viola e Marisa Monte (Carinhoso)

domingo, 18 de março de 2012

Abraço...

"...Viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou" (Evangelho de S. Lucas 15:20)


Já escrevi sobre o abraço...

Ontem abracei e fui abraçado...como é bom abraçar!

Só se abraçam os desarmados, pois os braços se abrem no vazio até serem preenchidos pelo outro.

Não há contato e proximidade maior..

Mas o abraço a que me refiro não é o abraço vulgar...do dia a dia...o abraço automático...abraço morto.

Falo do abraço consciente, o abraço motivado pelo desejo de sentir o próximo e que, no silêncio do gesto, troca emoções.

Falo do abraço amigo...seguido de choro, que se eterniza no tempo em que dura.

O abraço que conforta, que protege...que comunica e aquece.

O abraço desprovido de interesses e intenções outras, que não a mais pura e singela humanidade.

O abraço da despedida, bem como do reencontro... abraço sentido...abraço doído...abraço que alivia...abraço do luto ou da morte adiada.

Abraçar é um ato sublime...

Abraçar é se entregar e receber...é perdoar e esquecer....é encorajar

Abraçar é viver... é repartir a vida...é fazer reviver.


Um grande abraço,

Do pregador.

terça-feira, 13 de março de 2012

Visita...


"...Hoje me convém pousar em tua casa." (Evangelho de São Lucas 11:14)



Visita...

Em meio à virtualização nas relações que marca essa pós modernidade, terminamos por perder alguns prazeres da vida.

Visitar e ser visitado, por exemplo...

O contato cinestésico...o olho no olho...o sorriso franco...o abraço na chegada e na saída e, entre eles,  a conversa sem pressa... regada a café ou chá, e muito riso.

Momentos em que trocávamos impressões e semelhanças, confidências e conselhos.

Momentos em que o outro era mais que um vulto perdido entre passantes apressados.

Momentos em que o outro era humano e...nós também.

Virtualizamos nossas relações e com elas, nossa sensibilidade.

Virtualizamos também nossa espiritualidade...

Nossa relação com  o divino passou a ser intermediada por correntes virais, que multiplicam-se, quase sempre, sem ser lidas...

Não assentamos mais à mesa  com o Pai para beber dos seus rios, das suas fontes de água viva....

Com isso perdemos...

Perdemos a chance de sermos aperfeiçoados num mundo cada vez menos sensível...dominado pela tecnologia que nos seduz, mas que também nos distancia.

Deus nos pensou originalmente como uma grande família terrena, porém, nos dispersamos...

Colhemos hoje o fruto amargo da solidão acompanhada. O outro, que era para ser nosso próximo, nunca nos foi tão estranho.

Jesus, enquanto esteve na terra, visitou pessoas improváveis...

Dentre elas, Zaqueu...um folclórico anão, cobrador de impostos.

O resultado desse encontro foi bom para ambos...Zaqueu encontrou o que procurava e Jesus se alegrou.

O patriarca Abraão, em tempos remotos, recebeu anjos em sua casa...sem saber.

Basta a hospitalidade para voltarmos a nos surpreender.

Esse devaneio é fruto de uma visita celestial...

Muito pessoal, por sinal,  para compartilhar...tem coisas que devem ser mantidas entre o visitado e o Visitante.

O que me convém dizer é que foi bom...

Bom pra mim... e pra Ele.

Quero voltar a abrir as portas da minha casa e da minha vida para receber os amigos...

Quero mais que interação virtual...quero receber anjos...

O café já está no bule...

Pra quem preferir, na chaleira tem chá ...

Mas, sempre...

...olho no olho...sorriso franco...abraço na chegada e na saída.


De coração,

O pregador.




Obs.: Sérgio Pimenta canta "Quero beber dos teus rios, Senhor". 
        Permita-se vivenciar essa experiência...





sábado, 10 de março de 2012

Recolhimento

"Assente-se solitário e fique em silêncio..." (Lamentações 3:28)


Por vezes o pregador se recolhe...

Assim como qualquer um  preciso estar só de vez em quando...

Meus devaneios, muitos deles são compartilhados com meus leitores, outros são meus demais.

Mas nenhum escapa do Altíssimo... Isso me traz paz, pois Deus conhece a minha essência.

É no silêncio da solidão auto imposta que muitas vezes me sinto acompanhado...acompanhado de mim mesmo.

Quem consegue estar consigo, por pouco que seja, estagia para viver com os outros...

Suportar nossos próprios espinhos nos faz desejar os dos outros na busca pelo calor humano.

Conheço pessoas que não conseguem estar só... Não faço apologia à solidão...

Minha apologia é ao encontro...encontro consigo mesmo.

Muitos correm para Deus, antes de olharem pra dentro de si...Olhar para dentro de si é condição para se aproximar de Deus...

Correr para Deus como fuga de si não é bom...o auto confronto se faz necessário.

Não se deseja ardentemente a Deus sem que primeiro se contemple o inferno.

O inferno são os outros, diria Sartre. Mas eu sou o outro de alguém.

O que é a conversão, senão uma mudança radical à partir do reconhecimento da auto insuficiência???

Uma entrega incondicional da própria vida depois de expô-la ao escrutínio da consciência.

Difícil tal se dar sem um recolhimento, sem uma volta pra si...

É no recolhimento que nos percebemos orfãos e clamamos pelo Pai...

É no recolhimento que entendemos certas coisas...

Que jamais estamos só...

Que somos vencedores à partir daquEle que já venceu...

Que Deus tem caminhos lindos para nós...

Por isso me recolho...

Pra reaprender o que pensava já ter aprendido..

Pra valorizar a mensagem que ecoa da cruz...

Pra perceber que sem Ele eu nada sou...

Que sem Ele não há pregador...


Marcello di Paola


PS: Uma reflexão musical com Jozyanne... Tente entender...