segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A esperança dos aflitos...


"Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente" (Salmo 9:18)

Não era para eu escrever hoje...talvez nem devesse, mas esse é meu espaço para devanear.

Hoje minha fé é provada ao extremo e não posso conter a dor e o arrependimento por existir... pois é, como se de mim dependesse alguma coisa.

Hoje desejei ser cego para não ver, surdo para não ouvir e mudo para não falar.

Nunca me foi tão difícil escrever...nunca as palavras me evitaram com tamanha dramaticidade.

Pensei que sabia o quanto o ser humano é fétido, podre, fútil e desprezível...

Como estava enganado!

Desejei ardentemente não ter havido arco íris no céu pós diluviano como testemunha do concerto de Deus com o homem.

Desejei mais que Jonas a destruição dos ninivitas capitalistas e o desmoronamento de suas muralhas...

Desejei que as estrelas caíssem do céu, que a lua avermelhasse feito sangue e que o sol enegrecesse subitamente...para esconder a feiura da alma humana desnudada em toda sua hipocrisia.

Tudo isso porque hoje vi num vídeo um bebê sendo atropelado várias vezes, sob o olhar de passantes indiferentes que se desviavam do pequeno corpo agonizante ao invés de socorre-lo.

Aconteceu, segundo a notícia, numa província chinesa, numa rua comercial, onde tempo é dinheiro e vida é nada.

Aliás, o que é um bebê a menos numa população de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes?

Talvez agora, a desilusão desse pregador, comece a ser compreendida.

A cena desse bebe, que me chicoteia a alma, me traz a memória as crianças dos orfanatos, as crianças refugiadas da guerra, as crianças abandonadas nas portas dos outros, as crianças encerradas nas camas dos hospitais, as crianças famintas do continente africano, as crianças cujo playground são os esgotos a céu aberto nas favelas das periferias, as crianças que mendigam exploradas nos faróis das metrópoles endinheiradas, as crianças abusadas por monstros dominados por desejos insanos, as crianças que dormem diariamente ao som da sinfonia da fome, as crianças esquecidas por adultos esquecidos de sua própria infância...

Em meio a essa amargura da minha alma recorro à Palavra do Eterno: "Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente. Levanta-te Senhor; não prevaleça o mortal. Sejam as nações julgadas na tua presença. Infunde-lhes, Senhor, o medo; saibam as nações que não passam de mortais." (Salmo 9:18-20)

Este pregador teima em acreditar que a indignação divina é muito maior do que a de qualquer pessoa capaz de se comover... Deus ainda está no controle, eu sei.

Para os que suportarem experimentar a mesma aflição que o pregador, diante de imagens tão degradantes, eis o link:





domingo, 20 de novembro de 2011

A Grandeza de Deus e a "grandeza" do homem...

E a luz resplandeceu nas trevas , e as trevas não a compreenderam. (Evangelho de S. João 1:5)

Tive ontem a felicidade de conhecer mais um pedacinho do corpo de Cristo. Encravada numa viela da periferia sul paulistana, uma comunidade pequena, jovem, alegre, dinâmica e sedenta de Deus. Num evento denominado "Estação Sábado", foi um esbanjo de boa música, bom humor e genuína adoração. Com todos os limite impostos por um pequeno espaço , conseguiram transformar aquela reunião num santuário cheio da glória de Deus. Já estive em muitos templos suntuosos, mas ontem fui surpreendido pelo Deus da simplicidade, o Deus que se revela nos labirintos esquecidos pelo poder público...lá onde estão as pessoas que precisam ver Deus ao invés de só ouvir dizer. Eu vi Deus ontem na vida daquela comunidade, nas suas formas e expressões..

Num tempo em que muitas igrejas cultivam a tendencia ao megalomaníaco para "surpreender" a Deus, poucos são os que se apresentam na simplicidade de seus corações. Aliás, Deus nunca requereu mais que isso para os que se propõem a encontrá-lo.

O Grande Hamsés, considerado o maior faraó do Egito, para compensar sua aparência pequena e frágil, mandava esculpir sua imagem em grandes colunas por todo o país e evitava aparecer em público. Não obstante toda a grandeza do monarca seu corpo jaz num caixão de vidro climatizado no Museu do Cairo. Temos muitos outros exemplos, Ciro, Alexandre, Nero, Herodes, todos ostentando o título de "Grande" na frente do nome.

O Rei dos reis, no entanto, nasceu numa manjedoura dentro de um estábulo. Se submeteu ao batismo pelas mãos de um homem de aparência nada chamativa, que se vestia de pele de animais e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Jesus, não raro, era visto com os pobres, mulheres e endemoninhados, enfermos, além dos homens odiados, funcionários do império.

Jesus se revelou uma contradição para o seu tempo e permanece uma contradição até os dias de hoje. As teologias modernas o tentam moldar para adequá-lo a um cristianismo menos indigesto.

Jesus, no entanto, em reuniões como a que presenciei ontem, se mostra o mesmo Jesus de sempre. Aquele que não se deixa impressionar pela ostentação humana, aquele que mesmo habitando num alto e sublime trono, habita também com o contrito de espírito.

Jesus é a luz do mundo. Resplandece, mas não é visto por muitos, pois estes o idealizam como uma "grande celebridade". Jesus é visto por pessoas com o mesmo espírito de João Batista. Aqueles que o identificam no meio dos que buscam o batismo... Aqueles que se satisfazem na sua simplicidade... Aqueles que enxergam um Rei ainda que vestido de servo...Aqueles que marcam com Ele um encontro no próprio quarto, do bairro mais distante, pois sabem que Ele comparecerá.

Ontem aprendi sobre a grandeza da simplicidade de Deus...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

É duro admitir que somos menos que nada...


"...Porque tudo passa rapidamente e nós voamos." (Salmo 90:10)



Já pensei em sair pelo mundo e desembarcar em Roterdã elogiando a loucura...

Já pensei que perdi tempo demais buscando sentido para a vida...

Já pensei que tinha chegado ao fim da linha só para viver meu momento de phênix...

Já pensei que eu era o máximo em determinados momentos, só para descobrir que não estava com essa bola toda...

Já pensei que de mim não saia mais nada de bom, quando alguém de que nem imaginava me disse que foi abençoado com minhas palavras...

Já pensei que estava tudo perdido, quando do impensável surgiu uma solução...

Já pensei em morrer quando encontrei motivos mais fortes para continuar vivendo...

Já pensei que certas coisas eram para sempre e hoje convivo com a saudade...

Já pensei que tinha achado o mapa do tesouro, quando na verdade estava mais perdido que tudo na vida...

Já pensei que tinha aprendido com meus erros, só para descobrir que eles são a minha essência...

Já pensei em desistir de tudo e de todos, quando encontrei uma nova causa para acreditar e defender...

Já pensei em desistir de pensar e simplesmente deixar a vida me levar...

Já pensei que estava esquecido por Deus, só para ver sua misericórdia renovada sobre a minha vida...

Já pensei em desistir da fé, quando ouvi o Espirito sussurrar no meu ouvido: "Você é meu"...

O fato é que a vida é feita de incertezas. Somos seres inacabados, em formação constante. Alegrias e decepções se revezam em nossa jornada incerta. Vamos percebendo pela reflexão o quão vulneráveis somos, o quanto as alegrias duram só um momento, o quanto o Pregador estava certo quando ensinava que "Tudo é vaidade e correr atrás do vento".
A nossa geração, o nosso tempo cultivou a insanidade de cultuar o homem, esse ser finito e com prazo de validade determinado. Virou as costas para Deus e fez de seus conselhos dogmas ultrapassados. A consequência aí está, pessoas disformes no seu espírito, inseguras, perturbadas, inquietas e sem paz. Nossos pensamentos, por mais que divaguem, nos levarão à necessidade do retorno ao Criador. Ele é a completude que nos falta...

Já pensei em muitas coisas, mas descobri enfim que Deus, muito antes, já pensava em mim...






domingo, 6 de novembro de 2011

Dias sem prazer...


"...antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu." (Eclesiastes 12:6-7)



A velhice é um dos temas dos quais muitos fogem de refletir. O Pregador, entretanto, recorre a assuntos não celebrados nas rodas da vaidade para atrair mentes alienadas, aos alertas da sabedoria.

É típico do homem de todas as épocas boicotar a reflexão sobre sua finitude. Em dias modernos, isso ficou muito mais fácil diante do aparato de entretenimento que o orbita. Todas essas distrações, respaldada por conceitos psicológicos, filosóficos e metafísicos tem convidado o homem a sonhar com a imortalidade, sem no entanto, refletir sobre sua finitude.

A finitude e infinitude que caracterizam o homem e Deus respectivamente era a síntese do pensamento de Kierkegaard no século XVIII, e que fez o filósofo se debruçar em reflexões que culminaria naquilo que viríamos a chamar de existencialismo.

Nesse aspecto a velhice se constitui num verdadeiro tabu. Na falta da mitológica fonte da juventude, a ciência disfarça os sinais da velhice pelas mãos habilidosas de escultores de corpos quase divinizados. A indústria farmacêutica surpreende com novos medicamentos que interrompem processos de morte. A cultura dos hábitos saudáveis é disseminada de forma que a velhice agora não é mais chamada de terceira idade, mas de "melhor idade".

Melhor???

Para o Pregador o período que separa o ápice da juventude da volta ao pó é marcado pelo desgaste. Ele recomenda que se aproveite sabiamente a juventude "antes que venham os maus dias nos quais dirás, não tenho neles prazer."

O grande paradoxo do homem moderno é a busca de uma vida plena movido pela vaidade, ao invés de pelo autor da vida.

"Lembra-te do teu Criador..." recomenda o Pregador, mas lembra-te enquanto reúnes em teu corpo e mente todo o potencial da sua juventude, para que assim direcione seu caminho para o que vale a pena, para os valores eternos.

O processo de desgaste pode ser retardado, mas jamais impedido. Não houve soberano que permaneceu no trono para sempre, por mais grandioso que tenha sido seu reinado.

Nada pior do que viver dias dados por Deus sem prazer...Uma frase de Kierkegaard cabe bem aqui: "A maioria dos homens perseguem o prazer com tanta impetuosidade que passa por ele sem vê-lo."

Lembra- te do teu Criador, desde a infância até a velhice...rompa enquanto há tempo com o niilismo de uma cultura que nega Deus embasada em discursos de sábios finitos.

Agindo assim, te manterás sereno mesmo quando chegarem os dias sem prazer, pois saberás que um prazer infinito está reservado aos que não se esqueceram do seu Criador.








sábado, 5 de novembro de 2011

Pensar sobre Deus...


"...no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite" (Salmo 63:6)



Pensar sobre Deus é se lançar no infinito...
É se desprender da matéria, é se permitir divagar...transcender, por assim dizer.

É reconhecer a própria pequenez e também a insensatez...

É rever os conceitos do sagrado, romper com as certezas e se deliciar com o inefável...

Não se importar com o que não se alcança por meio do pensamento, mas com o que se toca à partir do coração, ainda que seja apenas a orla de seu manto.

Pensar sobre Deus é exercitar a humildade...é se permitir surpreender e sorrir diante do óbvio tanto quanto do inexplicável.

Pensar sobre Deus é identificar seu papel no tempo e no espaço. . .é se tornar melhor dia após outro.

Pensar sobre Deus é fazer da paz seu estado de espírito...é não mais reclamar...é assumir a dor do outro como se fosse sua.

Pensar sobre Deus é perceber o quanto se é amado, se não pelos outros, simplesmente por Ele.

Pensar sobre Deus é não temer a morte e muito menos a vida, sabedor que se é que de um de outro Ele é o Senhor.

Pensar sobre Deus é não temer a má notícia, é não se inquietar com as oscilações dos humores seja da natureza ou mesmo dos homens...

Pensar sobre Deus é deitar e dormir...

Pensar sobre Deus é devanear como o pregador, é buscar palavras que o enalteçam sem porém encontrá-las.

Pensar sobre Deus é não pensar em mais nada, pois nEle tudo se resume...

Pensar sobre Deus é o que nos vai curar de nós mesmos...




Carpe diem...

"Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmo 118:24)


O amanhecer para muitas pessoas tem sido a experiência do suplício. Se esta tem sido a sua rotina, se tens comungado com a depressão e a desesperança em meio a noites mal dormidas, te convido para essa pequena reflexão... carpe diem.



Dia comum, deixe-me estar ciente do tesouro que é você.
deixe-me aprender com você, amar você, saborear você, antes que se vá.

Não deixe que eu te ignore em busca de um amanhã raro e perfeito.
Deixe-me agarrar você enquanto posso,
porque você não será eterno.

Um dia, cavarei a terra com meus dedos, ou enterrarei meu rosto no travesseiro,
ou retesarei meu corpo, ou elevarei minhas mão para o céu,
e desejarei mais que tudo no mundo:
...que você volte.

Mary Jean Irion
Yes, World: A Nosaic of Meditation

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Plenitude


"A Glória de Deus é um ser humano em plenitude" (Santo Irineu -  Séc.II)



Quando Deus criou o homem o fez à sua imagem e semelhança, segundo relata o Gênesis. Ou seja, nada lhe faltava, era simplesmente pleno. Assim o dicionário define a palavra plenitude: "Estado ou qualidade do que está completo, cheio, inteiro.Totalidade.

Alguns milhares, ou quem sabe, milhões de anos depois, o que vemos são homens e mulheres despedaçados em suas emoções. Persiste uma sensação de que a vida está se passando sem ser vivida. Busca-se a felicidade desesperadamente como o mergulhador das cavernas traiçoeiras, que busca a corda guia que deixou perder, seduzido pelas profundezas oceânicas. O desejo de inteireza clama em cada fragmento da natureza humana que se desconectou do divino. A pena do salmista escreve que "os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Vejo, porém, o teólogo grego igualmente inspirado quando enxerga a glória de Deus num ser humano em plenitude, pois isso significa o retorno do homem à Deus.

Uma sociedade que aboliu Deus do seu convívio, à partir de uma modernidade que não se identifica com a fé, só pode produzir cidadãos despedaçados.

"Santo Irineu foi bispo de Lião. Nasceu provavelmente em Esmirna, na Ásia Menor, por volta de 130-135. Viveu em uma época dilacerada por heresias que colocavam em risco a unidade da Igreja na fé. Discípulo de São Policarpo - que havia conhecido pessoalmente o apóstolo São João e outras testemunhas oculares de Jesus, Santo Irineu foi, sem dúvida, o escritor cristão mais importante do século II. Foi o primeiro a procurar fazer uma síntese do pensamento cristão, cuja influência se faz notar até nossos dias. Santo Irineu, cujo nome significa "paz", lutou para a preservação da paz e da unidade da Igreja. Era um homem equilibrado e cheio de ponderação. Escreveu ao papa Vítor, aconselhando-o mui respeitosamente a evitar toda e qualquer precipitação no que dissesse respeito às comunidades cristãs da Ásia."

Equilibrado e cheio de ponderação...

Eis a descrição de uma pessoa que vive em plenitude. É evidente que tal condição não se alcança pelo simples desejar. Há que se tomar O Caminho de volta, que retorna à Deus em franco arrependimento.

"Eu sou o caminho, disse Jesus, a verdade e vida. Ninguém vem ao Pai se não por mim"

Por mais que a natureza tão bela que nos cerca testemunhe a glória de Deus, nada como um ser humano em plenitude para testificar dessa glória, pois é a imagem de Deus retornando ao seu estado original por intermédio do Cristo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Êxtase da Vida...

"No caminho da sabedoria te ensinei, e pelas carreiras direitas te fiz andar" (Provérbios 4:11)


Quando olho para o meu filho Lorenzo, hoje com onze meses, sinto pesar sobre meus ombros a responsabilidade que tiveram um dia meus pais. Aquele pequeno ser, que me encanta em suas contradições, que hora chora,  hora sorri, vai me ensinando a ser pai ao mesmo tempo que também denuncia minhas contradições. Quarenta anos nos separam, mas como somos parecidos! Toma-lo em meus braços é o êxtase da vida. É sustentar no colo o futuro do qual me foge o controle...desafiador, fascinante, preocupante.

Trago a memória a minha própria história. A conclusão que chego é que fui encaminhado pelas carreiras direitas. Bem cedo fui ensinado a temer a Deus...a crer em sua existência e a experimentar sua realidade. Evidentemente isso não me poupou dos dissabores que a vida reserva a cada um. Não foram poucos os desvios de rota com seus consequentes embaraços. A pedagogia da dor, no entanto, providencia de nos recolocar nas carreiras direitas.

Como qualquer pai, desejo poupar meu filho das dores que tive, mas ele terá sua própria história. Ninguém passa incólume pela existência. Existir tem o seu preço. O êxtase da vida consiste em vive-la plenamente . Há uma garantia para os que conseguem seguir pelo caminho da sabedoria que conduz às carreiras direitas.

O provérbio segue dizendo: "Por elas andando, não se embaraçarão os teus passos; e se correres, não tropeçaras."


À luz dessa palavra quantas surpresas não estão reservadas para os que amam a sabedoria!

Pelo tempo que me resta quero vivenciar todas estas surpresas. A você, Lorenzo meu filho, que essa seja a tua rotina....experimentar, dia após dias,  pela sabedoria...
... o êxtase da vida.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Restauração...




"Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo." (Sal. 116:7)

Nada pior a humanidade poderia fazer contra si mesma do que perder o contato com Deus. Sim, Deus converteu se em escape dos fracos na mente dos enebriados com a sabedoria do mundo. Quando me deparei com este salmo pela primeira vez e passe-ei meus olhos sobre ele, vivia algo próximo da angústia do salmista que o compôs.

"Laços de morte me cercaram, e angústia do inferno se apoderaram de mim: caí em tribulação e tristeza" 

Faço ideia que uma porção significativa das pessoas partilham deste mesmo sentimento. Muitos se tornaram reféns de suas dores de alma. As escaras que a vida lhes impregnaram lhes furtou o gosto pela existência. O outro (semelhante), em quem se deveria encontrar apoio, lhe vê como estranho, doente ou alguém para ser evitado, para dizer o mínimo. Sartre iria além e diria que "O inferno é o outro". Os laços de solidariedade estão cada vez mais raros na sociedade do consumo, nas pessoas que se auto afirmam na supremacia sobre o próximo, confirmando assim o pessimismo do filósofo existencialista. Sentimo-nos sós num mundo densamente povoado. Chegamos a sete bilhões de habitantes sobre a face da terra, muitos dos quais, almas aprisionadas em corpos cansados e sofridos. A oração que muitos fazem é a mesma daquele moribundo hóspede do inferno "Permita que o (outro) molhe na água a ponta do dedo e me venha refrescar a língua, pois me encontro em tormento nessas chamas" 

Esta é a realidade que assombra uma humanidade que destronou Deus para entronar o EU. O ser humano está diante de sua miséria em seus último gemidos. Assim também se encontrava o salmista quando enfim resolveu admitir seu estado: "Então invoquei o nome do Senhor, dizendo: Ó Senhor, livra a minha alma" 

O fato é que, apesar de nós mesmos, "Piedoso é o Senhor e justo: o nosso Deus tem misericórdia" . Esse pregador que vos escreve sabe bem disso. Fiz turismo pelo inferno de uma existência distante do seio do Pai, mas tal qual o salmista, invoquei o nome do Senhor. Experimentei sua generosidade. Ele veio ao meu encontro não com a ponta do dedo molhada na água, mas Ele mesmo, a própria Água da Vida, saciou a minha sede por completo. Minha alma se reencontrou com o sossego. "Porque tu, senhor, livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda." 

Só me resta dizer: "Andarei perante a face do Senhor na terra dos viventes" 

Alguém me acompanha?