segunda-feira, 21 de março de 2011

Quando os deuses choram...


Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou. (Evangelho de Lucas 19:41)

A capacidade de Deus se condoer diante do caos humano...

Ja chorei intensamente, mas faz tempo que não o faço...choro sentido, choro doído, choro como expressão de uma angústia infinita, um sufocamento desesperador de tristeza. Estes foram meus verdadeiros choros, lágrimas vertidas pelo remorso, pelo arrependimento, pelo que deixei de viver em busca de uma felicidade que ja me pertencia. O choro da impotência, o choro torrencial...o choro que só se esgota no sono do qual lamentamos despertar.

""Chorar é diminuir a profundidade da dor." (William Shakespeare)

O choro é a manifestação mais humana dos humanos e também dos deuses...

Me lembro de Orfeu,o filho do deus sol, que encheu-se de amargura e tristeza após a morte de sua amada Eurídice. Entoava melodias tão triste que os deuses choravam ao ouvi-las...

Uma coisa me ocorre nesse devaneio, chorar não é atributo só de homens e de deuses, mas quando o próprio Deus chora, cai sobre mim como chuva inesperada um questionamento inquietante...a motivação do meu choro.

No geral meu choro começa e termina em mim mesmo. Eu sou a fonte de minha própria angústia.

Mas Jesus chorou diante do túmulo de Lázaro, condoído pelas lágrimas de suas irmãs.

Jesus chorou diante de Jerusalém que matava seus profetas.

Jesus chorava pela dor do outro e não pela sua própria dor.

A tragédia das nações, sejam elas produzidas por bombas aliadas, pelo despertar dos vulcões ou pela fúria subterrânea de placas em conflito, me impressionam, mas não convidam minhas lágrimas ao cortejo fúnebre de suas vítimas.

Sou um produto da minha época, não tenho tempo de chorar e, por isso mesmo, me redescobrir...me reinventar.

De nada me consola saber que não estou sozinho no deserto causticante da indiferença...

Mas com o Deus que se fez homem aprendo que chorar é preciso, mais que nunca...

Não por minhas mazelas, e sim pelas do mundo, pois ainda que chore a noite inteira, a alegria virá ao amanhecer.

sábado, 19 de março de 2011

Procuro Deus! Procuro Deus!


Por mais que eu tente, às vezes é difícil não perguntar por Deus...

Deus, onde estás???

Quem, ainda que se negue deísta, já não teve a sensação de que Deus se retirou do mundo? Que se cansou de nós? De que é sublime e grandioso demais para corroborar com nossas ilusões infantis de sua proximidade?

Desconfio de pessoas "íntimas" demais de Deus...que falam com tamanha propriedade: "Deus me revelou" ou ainda, "Deus me disse"...

Não há dúvida que precisamos de Deus, tal como o homem louco da Gaia Ciência de Nietzsche...

"O homem louco. - Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: "Procuro Deus! Procuro Deus!"? - E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? - gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. "Para onde foi Deus?" gritou ele, "já lhes direi! Nós o matamos - vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós?

Imagino que este seja o sentimento de muitas pessoas que, como eu, olham pra um Japão arrasado por terremotos e tsunamis, pra uma Líbia em guerra civil, pra uma área do globo que cansou das ditaturas e que clama por liberdade.

Para onde nos movemos nós em meio a tanta incerteza e complexidade da existência? Em meio a cadáveres que se acumulam vitimados por tragédias sucessivas?

A busca do lucro, a escravidão ao capitalismo, a subserviência a Mammon, a perda da humanidade e dos valores, a cultura do culto auto hedonista?

Para onde nos movemos nós? Cada dia nos distanciamos de Deus, mas continuamos a procurá-lo na esperança de que não tenha morrido, enquanto morremos lentamente...

Ainda que moribundos, ouvimos o sussurro dos profetas:

“Não vos assombreis e nem temais; acaso, desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça.” (Is 44:8)

Recobramos as forças que julgáva-mos não mais existirem para ainda perguntarmos:

Deus, onde estás?

“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57: 15)

Nisso entendemos que é na solidão dos que o procuram, no hospício que nos abriga a razão, no caos das nossas misérias existenciais das quais tanto queremos nos livrar, que Deus "se esconde"...

Joguemos fora nossas lanternas, não precisamos mais delas.

Céu pra que?


"Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano" (Cantares 4: 11)

De manhã cedo lá na casa da fazenda
Vai surgindo como lenda um cenário de amor
Café quentinho feito no fogão de lenha
Prosa farta, que gostoso começar o dia assim...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

O arco-íris desponta lá no horizonte
Por detrás daqueles montes chuva e sol a se mesclar
Quanto mais bela se desenha a paisagem,
Mais me encanto nessa viagem
Proseando com você...

Nem mesmo a passarada em revoada, ou mesmo a noite enluarada
Em todo seu esplendor
Quanto mais bela se desenha a paisagem,
Mais me encanto nessa viagem
Proseando com você...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

Passou o dia e se quer nos demos conta
Agora é noite que remonta nostalgia de paixão
Temos assunto pra varar a madrugada
Prosa farta, que gostoso terminar o dia assim...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

(Letra e Música / MP)