terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Primeiros passos...

"Deus é a minha fortaleza e a minha força, e Ele perfeitamente desembaraça o meu caminho" II Samuel 22:33

Nós nunca sabemos o tamanho da caminhada, mas os primeiros passos se fazem necessário. Desistir ou persistir são decisões que precisarão ser tomadas...
Em muitos momentos o cenário ao derredor se mostra solitário e sombrio; por outras vezes, não é assim... Encontramos vozes ou sons que nos fazem sentir acompanhados.

Se nascemos, um caminho nos está proposto. No geral, reclamamos dele. É o medo do desconhecido.

Com o tempo vamos percebendo que o caminho oferece vias alternativas...paramos...por vezes há zonas de escape, afinal, chove, venta, o sol arde e ninguém é de ferro.

Por mais que às vezes a parada se prolongue, o caminho nos chama...precisamos seguir em frente ou, quem sabe, retornar...

Somos condicionados a sempre seguir em frente, como se na frente nos aguardasse algo que se quer sabemos do que trata...

Meu filho Lorenzo, após uma longa "caminhada" de 1 ano e 20 dias, deu hoje seus primeiros passos independentes...

Ah...que sensação indescritível!!! Seu nome me vem a mente com tudo que significa - "coroado de louros",  "O Vitorioso"!!! LORENZO...como amo esse nome...como te amo, meu filho!

Te olhando caminhar, ainda inseguro e vacilante, não sei se a emoção maior está em você ou em mim...

Em seus passos vacilantes vejo minha vida passar diante dos olhos. Seus olhos azuis, brilhantes e atentos procuram em mim a força do encorajamento para seguir em frente...

Mal sabe você, que eu é que encontro em seus olhos a força e a vontade que por vezes me falta.

Meu pequeno Lorenzo, que hoje ensaia seus primeiros passos, guarda em comum comigo que após milhares de passos, ainda estou aprendendo a caminhar...

Evidente que os medos são de outra natureza, mas eles estão na trajetória de qualquer caminhante. 

A incerteza do amanhã, as limitações trazidas pelos anos que se acumulam e que reverberam as reflexões pessimistas, porém, realistas do Pregador...

Estou a certa altura da minha jornada onde os medos se refazem...

Breve meu filho não estará mais debaixo de meus olhos o tempo todo, descobrirá um novo mundo que rivalizará com a minha, até então, exclusividade. 

Vou percebendo a duras penas que não sou dono dele, mas apenas o mordomo a quem Deus confiou um precioso tesouro...

Com isso, o pregador vai devaneando e aprendendo que o importante não é ter domínio sobre o caminho que se percorre, mas a confiança de que, quem nos propôs o caminho sabe de todas as coisas...

Quem se lembra dos primeiros passos? Praticamente ninguém, como o Lorenzo também não se lembrará quando for homem feito.

Mas, não fossem por eles, inseguros, vacilantes, trôpegos, não teríamos chegado até aqui, para enfim descobrir que continuamos dependendo daquele incentivo para continuar. Continuemos, pois, olhando para o mestre Jesus.

Siga em frente, meu filho Lorenzo...que Jesus te acompanhe.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Senhor...que eu veja..."

"Que queres que eu te faça"? (Evangelho de S.Lucas 18:41)



Já brinquei de ser cego...fechar os olhos e sair andando...
Não demorava muito, porém, pra desistir da brincadeira.

O dom da vista é maravilhoso...poder enxergar as belezas da terra em todas as suas formas e variedades.

Nos sentimos vivos quando vemos o belo e nos transtornamos quando vemos a realidade...

A realidade das ruas, das vielas, das encruzilhadas no horizonte.

Nossos olhos nãos nos brindam só com o que dá prazer, somos convidados a processar imagens angustiantes e, pra nosso desespero, elas parecem onipresentes.

Pra onde olhamos vemos dor, sofrimento, injustiça, enfim, o caos estabelecido.

Tenho me fartado dessas imagens ultimamente...mas não sou um masoquista, simplesmente me dei conta de que via sem enxergar.

Percebi que o outro passou a significar mais para mim...que minha dor é nada diante da dele. Passei a valorizar as relações e me aprofundar nelas. Cansei de viver mecanicamente como um soldadinho de chumbo que marcha ao tilintar sedutor das moedas...

Falando nisso, Bartimeu, pobre Bartimeu...esmolava na Palestina dos tempos de Cristo, até que a sorte lhe sorriu...era seu dia de glória. Jesus estava no seu caminho...tamanha sorte não se desperdiça e lá vai o cego, nem aí para ninguém, tropeçando e gritando feito louco: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim".

O Mestre o acode e fulmina: "Que queres que eu te faça?"

Por absurda que pareça a pergunta, Jesus sabia bem as implicações de enxergar..."às vezes é melhor ser cego".

"Senhor, que eu veja", responde o mendigo.

Não raro,  habitamos a escuridão de nossas almas...lugar sombrio, gélido e solitário. Nos habituamos à caverna de tal forma que a luz nos agride. Acostumamos a não ver ou escolher o que vamos enxergar dentre o que vemos. Nisso, muitos outros tem se tornado invisíveis para nós.

Hoje tenho medo de ter a escuridão que me protege os olhos dissipada...

Deus, entretanto, não me tem aliviado. "Se vieste para a Luz, tua alma terá que ser iluminada"

Tenho sido convocado dia após dia a encarar o caos, as mazelas do mundo e não só suas belezas e, ainda assim, guardar a fé.

Sofro com as imagens que me chegam via satélite diariamente, ou que se materializam nos teclados que digito.

O choro é inevitável e lubrificam meus olhos, de forma que vejo ainda mais nitidamente. Chorar nessa horas é bom...revela que ainda há vida num coração que se imaginava desertificado.

Me aproprio da fala de Bartimeu  neste melancólico devaneio para dizer:

"Senhor que eu veja, que eu veja para enxergar, mas me dê graça para suportar e forças para agir".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A esperança dos aflitos...


"Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente" (Salmo 9:18)

Não era para eu escrever hoje...talvez nem devesse, mas esse é meu espaço para devanear.

Hoje minha fé é provada ao extremo e não posso conter a dor e o arrependimento por existir... pois é, como se de mim dependesse alguma coisa.

Hoje desejei ser cego para não ver, surdo para não ouvir e mudo para não falar.

Nunca me foi tão difícil escrever...nunca as palavras me evitaram com tamanha dramaticidade.

Pensei que sabia o quanto o ser humano é fétido, podre, fútil e desprezível...

Como estava enganado!

Desejei ardentemente não ter havido arco íris no céu pós diluviano como testemunha do concerto de Deus com o homem.

Desejei mais que Jonas a destruição dos ninivitas capitalistas e o desmoronamento de suas muralhas...

Desejei que as estrelas caíssem do céu, que a lua avermelhasse feito sangue e que o sol enegrecesse subitamente...para esconder a feiura da alma humana desnudada em toda sua hipocrisia.

Tudo isso porque hoje vi num vídeo um bebê sendo atropelado várias vezes, sob o olhar de passantes indiferentes que se desviavam do pequeno corpo agonizante ao invés de socorre-lo.

Aconteceu, segundo a notícia, numa província chinesa, numa rua comercial, onde tempo é dinheiro e vida é nada.

Aliás, o que é um bebê a menos numa população de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes?

Talvez agora, a desilusão desse pregador, comece a ser compreendida.

A cena desse bebe, que me chicoteia a alma, me traz a memória as crianças dos orfanatos, as crianças refugiadas da guerra, as crianças abandonadas nas portas dos outros, as crianças encerradas nas camas dos hospitais, as crianças famintas do continente africano, as crianças cujo playground são os esgotos a céu aberto nas favelas das periferias, as crianças que mendigam exploradas nos faróis das metrópoles endinheiradas, as crianças abusadas por monstros dominados por desejos insanos, as crianças que dormem diariamente ao som da sinfonia da fome, as crianças esquecidas por adultos esquecidos de sua própria infância...

Em meio a essa amargura da minha alma recorro à Palavra do Eterno: "Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente. Levanta-te Senhor; não prevaleça o mortal. Sejam as nações julgadas na tua presença. Infunde-lhes, Senhor, o medo; saibam as nações que não passam de mortais." (Salmo 9:18-20)

Este pregador teima em acreditar que a indignação divina é muito maior do que a de qualquer pessoa capaz de se comover... Deus ainda está no controle, eu sei.

Para os que suportarem experimentar a mesma aflição que o pregador, diante de imagens tão degradantes, eis o link:





domingo, 20 de novembro de 2011

A Grandeza de Deus e a "grandeza" do homem...

E a luz resplandeceu nas trevas , e as trevas não a compreenderam. (Evangelho de S. João 1:5)

Tive ontem a felicidade de conhecer mais um pedacinho do corpo de Cristo. Encravada numa viela da periferia sul paulistana, uma comunidade pequena, jovem, alegre, dinâmica e sedenta de Deus. Num evento denominado "Estação Sábado", foi um esbanjo de boa música, bom humor e genuína adoração. Com todos os limite impostos por um pequeno espaço , conseguiram transformar aquela reunião num santuário cheio da glória de Deus. Já estive em muitos templos suntuosos, mas ontem fui surpreendido pelo Deus da simplicidade, o Deus que se revela nos labirintos esquecidos pelo poder público...lá onde estão as pessoas que precisam ver Deus ao invés de só ouvir dizer. Eu vi Deus ontem na vida daquela comunidade, nas suas formas e expressões..

Num tempo em que muitas igrejas cultivam a tendencia ao megalomaníaco para "surpreender" a Deus, poucos são os que se apresentam na simplicidade de seus corações. Aliás, Deus nunca requereu mais que isso para os que se propõem a encontrá-lo.

O Grande Hamsés, considerado o maior faraó do Egito, para compensar sua aparência pequena e frágil, mandava esculpir sua imagem em grandes colunas por todo o país e evitava aparecer em público. Não obstante toda a grandeza do monarca seu corpo jaz num caixão de vidro climatizado no Museu do Cairo. Temos muitos outros exemplos, Ciro, Alexandre, Nero, Herodes, todos ostentando o título de "Grande" na frente do nome.

O Rei dos reis, no entanto, nasceu numa manjedoura dentro de um estábulo. Se submeteu ao batismo pelas mãos de um homem de aparência nada chamativa, que se vestia de pele de animais e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Jesus, não raro, era visto com os pobres, mulheres e endemoninhados, enfermos, além dos homens odiados, funcionários do império.

Jesus se revelou uma contradição para o seu tempo e permanece uma contradição até os dias de hoje. As teologias modernas o tentam moldar para adequá-lo a um cristianismo menos indigesto.

Jesus, no entanto, em reuniões como a que presenciei ontem, se mostra o mesmo Jesus de sempre. Aquele que não se deixa impressionar pela ostentação humana, aquele que mesmo habitando num alto e sublime trono, habita também com o contrito de espírito.

Jesus é a luz do mundo. Resplandece, mas não é visto por muitos, pois estes o idealizam como uma "grande celebridade". Jesus é visto por pessoas com o mesmo espírito de João Batista. Aqueles que o identificam no meio dos que buscam o batismo... Aqueles que se satisfazem na sua simplicidade... Aqueles que enxergam um Rei ainda que vestido de servo...Aqueles que marcam com Ele um encontro no próprio quarto, do bairro mais distante, pois sabem que Ele comparecerá.

Ontem aprendi sobre a grandeza da simplicidade de Deus...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

É duro admitir que somos menos que nada...


"...Porque tudo passa rapidamente e nós voamos." (Salmo 90:10)



Já pensei em sair pelo mundo e desembarcar em Roterdã elogiando a loucura...

Já pensei que perdi tempo demais buscando sentido para a vida...

Já pensei que tinha chegado ao fim da linha só para viver meu momento de phênix...

Já pensei que eu era o máximo em determinados momentos, só para descobrir que não estava com essa bola toda...

Já pensei que de mim não saia mais nada de bom, quando alguém de que nem imaginava me disse que foi abençoado com minhas palavras...

Já pensei que estava tudo perdido, quando do impensável surgiu uma solução...

Já pensei em morrer quando encontrei motivos mais fortes para continuar vivendo...

Já pensei que certas coisas eram para sempre e hoje convivo com a saudade...

Já pensei que tinha achado o mapa do tesouro, quando na verdade estava mais perdido que tudo na vida...

Já pensei que tinha aprendido com meus erros, só para descobrir que eles são a minha essência...

Já pensei em desistir de tudo e de todos, quando encontrei uma nova causa para acreditar e defender...

Já pensei em desistir de pensar e simplesmente deixar a vida me levar...

Já pensei que estava esquecido por Deus, só para ver sua misericórdia renovada sobre a minha vida...

Já pensei em desistir da fé, quando ouvi o Espirito sussurrar no meu ouvido: "Você é meu"...

O fato é que a vida é feita de incertezas. Somos seres inacabados, em formação constante. Alegrias e decepções se revezam em nossa jornada incerta. Vamos percebendo pela reflexão o quão vulneráveis somos, o quanto as alegrias duram só um momento, o quanto o Pregador estava certo quando ensinava que "Tudo é vaidade e correr atrás do vento".
A nossa geração, o nosso tempo cultivou a insanidade de cultuar o homem, esse ser finito e com prazo de validade determinado. Virou as costas para Deus e fez de seus conselhos dogmas ultrapassados. A consequência aí está, pessoas disformes no seu espírito, inseguras, perturbadas, inquietas e sem paz. Nossos pensamentos, por mais que divaguem, nos levarão à necessidade do retorno ao Criador. Ele é a completude que nos falta...

Já pensei em muitas coisas, mas descobri enfim que Deus, muito antes, já pensava em mim...






domingo, 6 de novembro de 2011

Dias sem prazer...


"...antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu." (Eclesiastes 12:6-7)



A velhice é um dos temas dos quais muitos fogem de refletir. O Pregador, entretanto, recorre a assuntos não celebrados nas rodas da vaidade para atrair mentes alienadas, aos alertas da sabedoria.

É típico do homem de todas as épocas boicotar a reflexão sobre sua finitude. Em dias modernos, isso ficou muito mais fácil diante do aparato de entretenimento que o orbita. Todas essas distrações, respaldada por conceitos psicológicos, filosóficos e metafísicos tem convidado o homem a sonhar com a imortalidade, sem no entanto, refletir sobre sua finitude.

A finitude e infinitude que caracterizam o homem e Deus respectivamente era a síntese do pensamento de Kierkegaard no século XVIII, e que fez o filósofo se debruçar em reflexões que culminaria naquilo que viríamos a chamar de existencialismo.

Nesse aspecto a velhice se constitui num verdadeiro tabu. Na falta da mitológica fonte da juventude, a ciência disfarça os sinais da velhice pelas mãos habilidosas de escultores de corpos quase divinizados. A indústria farmacêutica surpreende com novos medicamentos que interrompem processos de morte. A cultura dos hábitos saudáveis é disseminada de forma que a velhice agora não é mais chamada de terceira idade, mas de "melhor idade".

Melhor???

Para o Pregador o período que separa o ápice da juventude da volta ao pó é marcado pelo desgaste. Ele recomenda que se aproveite sabiamente a juventude "antes que venham os maus dias nos quais dirás, não tenho neles prazer."

O grande paradoxo do homem moderno é a busca de uma vida plena movido pela vaidade, ao invés de pelo autor da vida.

"Lembra-te do teu Criador..." recomenda o Pregador, mas lembra-te enquanto reúnes em teu corpo e mente todo o potencial da sua juventude, para que assim direcione seu caminho para o que vale a pena, para os valores eternos.

O processo de desgaste pode ser retardado, mas jamais impedido. Não houve soberano que permaneceu no trono para sempre, por mais grandioso que tenha sido seu reinado.

Nada pior do que viver dias dados por Deus sem prazer...Uma frase de Kierkegaard cabe bem aqui: "A maioria dos homens perseguem o prazer com tanta impetuosidade que passa por ele sem vê-lo."

Lembra- te do teu Criador, desde a infância até a velhice...rompa enquanto há tempo com o niilismo de uma cultura que nega Deus embasada em discursos de sábios finitos.

Agindo assim, te manterás sereno mesmo quando chegarem os dias sem prazer, pois saberás que um prazer infinito está reservado aos que não se esqueceram do seu Criador.








sábado, 5 de novembro de 2011

Pensar sobre Deus...


"...no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite" (Salmo 63:6)



Pensar sobre Deus é se lançar no infinito...
É se desprender da matéria, é se permitir divagar...transcender, por assim dizer.

É reconhecer a própria pequenez e também a insensatez...

É rever os conceitos do sagrado, romper com as certezas e se deliciar com o inefável...

Não se importar com o que não se alcança por meio do pensamento, mas com o que se toca à partir do coração, ainda que seja apenas a orla de seu manto.

Pensar sobre Deus é exercitar a humildade...é se permitir surpreender e sorrir diante do óbvio tanto quanto do inexplicável.

Pensar sobre Deus é identificar seu papel no tempo e no espaço. . .é se tornar melhor dia após outro.

Pensar sobre Deus é fazer da paz seu estado de espírito...é não mais reclamar...é assumir a dor do outro como se fosse sua.

Pensar sobre Deus é perceber o quanto se é amado, se não pelos outros, simplesmente por Ele.

Pensar sobre Deus é não temer a morte e muito menos a vida, sabedor que se é que de um de outro Ele é o Senhor.

Pensar sobre Deus é não temer a má notícia, é não se inquietar com as oscilações dos humores seja da natureza ou mesmo dos homens...

Pensar sobre Deus é deitar e dormir...

Pensar sobre Deus é devanear como o pregador, é buscar palavras que o enalteçam sem porém encontrá-las.

Pensar sobre Deus é não pensar em mais nada, pois nEle tudo se resume...

Pensar sobre Deus é o que nos vai curar de nós mesmos...




Carpe diem...

"Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmo 118:24)


O amanhecer para muitas pessoas tem sido a experiência do suplício. Se esta tem sido a sua rotina, se tens comungado com a depressão e a desesperança em meio a noites mal dormidas, te convido para essa pequena reflexão... carpe diem.



Dia comum, deixe-me estar ciente do tesouro que é você.
deixe-me aprender com você, amar você, saborear você, antes que se vá.

Não deixe que eu te ignore em busca de um amanhã raro e perfeito.
Deixe-me agarrar você enquanto posso,
porque você não será eterno.

Um dia, cavarei a terra com meus dedos, ou enterrarei meu rosto no travesseiro,
ou retesarei meu corpo, ou elevarei minhas mão para o céu,
e desejarei mais que tudo no mundo:
...que você volte.

Mary Jean Irion
Yes, World: A Nosaic of Meditation

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Plenitude


"A Glória de Deus é um ser humano em plenitude" (Santo Irineu -  Séc.II)



Quando Deus criou o homem o fez à sua imagem e semelhança, segundo relata o Gênesis. Ou seja, nada lhe faltava, era simplesmente pleno. Assim o dicionário define a palavra plenitude: "Estado ou qualidade do que está completo, cheio, inteiro.Totalidade.

Alguns milhares, ou quem sabe, milhões de anos depois, o que vemos são homens e mulheres despedaçados em suas emoções. Persiste uma sensação de que a vida está se passando sem ser vivida. Busca-se a felicidade desesperadamente como o mergulhador das cavernas traiçoeiras, que busca a corda guia que deixou perder, seduzido pelas profundezas oceânicas. O desejo de inteireza clama em cada fragmento da natureza humana que se desconectou do divino. A pena do salmista escreve que "os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Vejo, porém, o teólogo grego igualmente inspirado quando enxerga a glória de Deus num ser humano em plenitude, pois isso significa o retorno do homem à Deus.

Uma sociedade que aboliu Deus do seu convívio, à partir de uma modernidade que não se identifica com a fé, só pode produzir cidadãos despedaçados.

"Santo Irineu foi bispo de Lião. Nasceu provavelmente em Esmirna, na Ásia Menor, por volta de 130-135. Viveu em uma época dilacerada por heresias que colocavam em risco a unidade da Igreja na fé. Discípulo de São Policarpo - que havia conhecido pessoalmente o apóstolo São João e outras testemunhas oculares de Jesus, Santo Irineu foi, sem dúvida, o escritor cristão mais importante do século II. Foi o primeiro a procurar fazer uma síntese do pensamento cristão, cuja influência se faz notar até nossos dias. Santo Irineu, cujo nome significa "paz", lutou para a preservação da paz e da unidade da Igreja. Era um homem equilibrado e cheio de ponderação. Escreveu ao papa Vítor, aconselhando-o mui respeitosamente a evitar toda e qualquer precipitação no que dissesse respeito às comunidades cristãs da Ásia."

Equilibrado e cheio de ponderação...

Eis a descrição de uma pessoa que vive em plenitude. É evidente que tal condição não se alcança pelo simples desejar. Há que se tomar O Caminho de volta, que retorna à Deus em franco arrependimento.

"Eu sou o caminho, disse Jesus, a verdade e vida. Ninguém vem ao Pai se não por mim"

Por mais que a natureza tão bela que nos cerca testemunhe a glória de Deus, nada como um ser humano em plenitude para testificar dessa glória, pois é a imagem de Deus retornando ao seu estado original por intermédio do Cristo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Êxtase da Vida...

"No caminho da sabedoria te ensinei, e pelas carreiras direitas te fiz andar" (Provérbios 4:11)


Quando olho para o meu filho Lorenzo, hoje com onze meses, sinto pesar sobre meus ombros a responsabilidade que tiveram um dia meus pais. Aquele pequeno ser, que me encanta em suas contradições, que hora chora,  hora sorri, vai me ensinando a ser pai ao mesmo tempo que também denuncia minhas contradições. Quarenta anos nos separam, mas como somos parecidos! Toma-lo em meus braços é o êxtase da vida. É sustentar no colo o futuro do qual me foge o controle...desafiador, fascinante, preocupante.

Trago a memória a minha própria história. A conclusão que chego é que fui encaminhado pelas carreiras direitas. Bem cedo fui ensinado a temer a Deus...a crer em sua existência e a experimentar sua realidade. Evidentemente isso não me poupou dos dissabores que a vida reserva a cada um. Não foram poucos os desvios de rota com seus consequentes embaraços. A pedagogia da dor, no entanto, providencia de nos recolocar nas carreiras direitas.

Como qualquer pai, desejo poupar meu filho das dores que tive, mas ele terá sua própria história. Ninguém passa incólume pela existência. Existir tem o seu preço. O êxtase da vida consiste em vive-la plenamente . Há uma garantia para os que conseguem seguir pelo caminho da sabedoria que conduz às carreiras direitas.

O provérbio segue dizendo: "Por elas andando, não se embaraçarão os teus passos; e se correres, não tropeçaras."


À luz dessa palavra quantas surpresas não estão reservadas para os que amam a sabedoria!

Pelo tempo que me resta quero vivenciar todas estas surpresas. A você, Lorenzo meu filho, que essa seja a tua rotina....experimentar, dia após dias,  pela sabedoria...
... o êxtase da vida.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Restauração...




"Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo." (Sal. 116:7)

Nada pior a humanidade poderia fazer contra si mesma do que perder o contato com Deus. Sim, Deus converteu se em escape dos fracos na mente dos enebriados com a sabedoria do mundo. Quando me deparei com este salmo pela primeira vez e passe-ei meus olhos sobre ele, vivia algo próximo da angústia do salmista que o compôs.

"Laços de morte me cercaram, e angústia do inferno se apoderaram de mim: caí em tribulação e tristeza" 

Faço ideia que uma porção significativa das pessoas partilham deste mesmo sentimento. Muitos se tornaram reféns de suas dores de alma. As escaras que a vida lhes impregnaram lhes furtou o gosto pela existência. O outro (semelhante), em quem se deveria encontrar apoio, lhe vê como estranho, doente ou alguém para ser evitado, para dizer o mínimo. Sartre iria além e diria que "O inferno é o outro". Os laços de solidariedade estão cada vez mais raros na sociedade do consumo, nas pessoas que se auto afirmam na supremacia sobre o próximo, confirmando assim o pessimismo do filósofo existencialista. Sentimo-nos sós num mundo densamente povoado. Chegamos a sete bilhões de habitantes sobre a face da terra, muitos dos quais, almas aprisionadas em corpos cansados e sofridos. A oração que muitos fazem é a mesma daquele moribundo hóspede do inferno "Permita que o (outro) molhe na água a ponta do dedo e me venha refrescar a língua, pois me encontro em tormento nessas chamas" 

Esta é a realidade que assombra uma humanidade que destronou Deus para entronar o EU. O ser humano está diante de sua miséria em seus último gemidos. Assim também se encontrava o salmista quando enfim resolveu admitir seu estado: "Então invoquei o nome do Senhor, dizendo: Ó Senhor, livra a minha alma" 

O fato é que, apesar de nós mesmos, "Piedoso é o Senhor e justo: o nosso Deus tem misericórdia" . Esse pregador que vos escreve sabe bem disso. Fiz turismo pelo inferno de uma existência distante do seio do Pai, mas tal qual o salmista, invoquei o nome do Senhor. Experimentei sua generosidade. Ele veio ao meu encontro não com a ponta do dedo molhada na água, mas Ele mesmo, a própria Água da Vida, saciou a minha sede por completo. Minha alma se reencontrou com o sossego. "Porque tu, senhor, livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda." 

Só me resta dizer: "Andarei perante a face do Senhor na terra dos viventes" 

Alguém me acompanha?



segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Não era para ser assim...

"Instruir-te-ei , e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; sob as minhas vistas te darei conselho." (Salmo 32:8)



Não é difícil nos sentirmos perdidos num mundo onde diversos caminhos nos são apresentados...
Diante de tantas opções, ainda nos faltam referenciais precisos, orientação clara, uma bússola que nos aponte o caminho a seguir. Em meio a uma profusão de filosofias, religiões e ciências, que hora se estranham, hora se mesclam na busca por respostas aos nossos dilemas, nos sentimos cada vez mais sugados pelos buracos negros da nossa ignorância. Fugimos então para nossos vícios, nossos ansiolíticos, nossos prazeres cada vez mais defasados. Nos habituamos às mentiras que nos contamos...vivemos o auto-engano.

Não era para ser assim...

O homem moderno, se gaba de viver na sociedade do conhecimento e da tecnologia, mas guarda em comum com seu ancestral das cavernas o medo de caminhar em direção à luz que irradia lá adiante. Nos acostumamos com a escuridão de nossas almas e vemos conformados nossas sombras projetadas na parede,  iluminadas pelo fogo da angústia que nos consome. Estamos ligados uns aos outros por correntes pesadas que nos lembram de  nossa semelhante condição...condição da qual somos escravos. O inferno não precisaria existir além de nossa cruel realidade. Diariamente nos confronta e nos afronta o caos de uma existência que clama por sentido. Disfarçamos nossa penúria existencial construindo mundos virtuais nos quais atuamos como deuses, mas um dia após o outro testemunha nosso fracasso quando nos vê refletidos no espelho.

Não era para ser assim...

Não há saída para a humanidade em si  mesma. O desgaste é desnecessário...A solução sempre esteve aí, mas o óbvio quase nunca é perceptível.
A voz do pregador clama no deserto, mas quem a ouve? Nada como o deserto para traduzir nosso estado de alma no século XXI...mas no deserto se anuncia o Salvador, aquele do qual não se considera o profeta digno sequer, de desatar-lhe a correia das sandálias.

Há um caminho, há um ensino, há uma luz, há uma saída.
Esta é a instrução.
Este é o conselho.

Deus, quando se fez homem foi para identificar-se com a raça humana, porém, a raça humana não se identificou com Ele. Ele era diferente demais...Ele era a luz que sinalizava da entrada da caverna.

"E a condenação é esta: Que Jesus veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más..
Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
Mas quem pratica a verdade vem para a luz, afim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."
(João 3:19-21)

Esperança há...e se chama JESUS.

É para ser assim!







segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Maçãs de ouro...

"O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda das angústias a sua alma". (Salmo 21: 23)



Vivemos numa sociedade que não preza pelo silêncio...
O silêncio incomoda, quando não atormenta. O barulho distrai, nos salva do auto confronto a que nos convoca uma meditação silenciosa. Guardar silêncio diante do outro, então, soa constrangedor, por isso nos pomos a falar, ainda que se não tenha nada a dizer. Um cumprimento nervoso, seguido de observações superficiais sobre o clima ou qualquer outra trivialidade em que nos apegamos como bote salva vidas num mar revolto. Somos condicionados culturalmente à comunicação. A sabedoria, porém,  recomenda nos prudência. Muitas são as citações: 

"O Falar é prata e o ouvir é ouro"
"Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita ao seu tempo"
"No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente".  

A fala não é o único meio de comunicação, às vezes um olhar diz muito mais. Quem pode se esquecer daquele encontro entre Jesus e o jovem rico? Depois de falar ao jovem e perceber que este não o compreendia, o evangelista Marcos observa:  " Fitando-o, Jesus o amou".

Mas, pessoas querem falar...por trás da fala está  o impulso desesperador por se fazer notar, pois é fácil se perder entre as multidões.

Em seu martírio, Jesus pouco falou...Isaias já tinha profetizado que "...tal como ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca".

O paradoxo é revelador...

Nas poucas vezes em que falou, demonstrou preocupação com os outros; a João, disse: "Eis aí tua mãe" e a Maria disse: "Eis aí teu filho"

Noutro momento ainda, pediu que Deus Pai perdoasse seus algozes e, ao ladrão moribundo, prometeu o Reino do Céu...

Palavras... poucas...mas que vivificavam.

Na sociedade da comunicação em que vivemos ferimos e somos feridos. As línguas se convertem em lanças de pontas incendiárias atiradas a esmo, daí se entende porque as almas se angustiam cada vez mais e a civilidade  rareia.

Há um convite, entretanto, para um grande banquete restaurador. O Rei nos aguarda para a grande festa. A mesa está posta e nela há fartura de amor, perdão, misericórdia e...maçãs de ouro...

Aproximem se, pois, ao Rei não convém fazer esperar...

sábado, 8 de outubro de 2011

Os "poréns" da vida...

"E Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito; porque por ele o Senhor dera livramento aos siros: e era este varão homem valoroso porém leproso". (II Reis 5:1)



Uma biografia de sucesso... quem não deseja ter uma? 
"Mais vale o bom nome que as muitas riquezas", diz um provérbio bíblico. 
O ser humano não foi feito para o anonimato. Ainda que muitos se escondam, escolhem esconderijos deixando rastros. O reconhecimento é uma necessidade latente. 
Gente não é como gotas que aos trilhões de trilhões compõem o mar azul  em uma síntese de beleza emoldurada na paisagem. Muito menos como humildes grãos de areia espalhados pelo vento que hora aqui, hora acolá, protagonizam conjuntamente um espetáculo visual aparentemente desordenado. Gente quer destaque, na verdade precisa dele para se sentir gente. De toda a criação de Deus, gente, seguramente é a mais complexa.
A natureza em todas as suas manifestações exalta o seu criativo Criador. 
"Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos". 
E o homem?
O homem se fecha em suas lamúrias, nos poréns da vida que se interpõe entre sua miséria existencial e a glória que lhe é objeto do desejo.
Não é de hoje que o homem se sonha divino, porém sua sentença é clara:
"És pó e ao pó há de tornar". 
Nem todo o ouro que cintila nos sarcófagos faraônicos, nem todas as conquistas do grande Alexandre, nem as vitórias acumuladas do general siro, livraram suas biografias dos poréns que os detiveram de serem alçados ao cume do Olimpo. E é assim que é desde os tempos mais remotos, todos os dias nossa finitude nos é lembrada...
Moisés falou em sua oração: "Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se nossos anos como um conto ligeiro".
O Pregador continuamente adverte que "Tudo é vaidade e correr atrás do vento". 
A glória não reside na individualidade, mas no coletivo, na partilha, no descobrimento do outro que nos exercita o espírito.
Os "poréns" da vida que "mancham" nossas biografias, são na verdade pequenos lembretes de que é o Criador quem escreve nossas histórias.
Não fosse a lepra de Naamã, sua serva continuaria lhe sendo invisível, como invisível se tornam todos a nossa volta quando almejamos uma biografia sem "poréns".
Ou aprendemos essa rica lição de bom grado ou continuaremos sendo mergulhados nos rios da nossa estupidez.
Encerro orando, novamente com Moisés:
"Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios." (Salmo 90:12)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Deitar e dormir...

"Em paz me deito e logo pego no sono, por que só tu, Senhor, me fazes repousar seguro". (Salmo 4:8)


Deitar e dormir é tudo o que muitos estão precisando. O que foi concebido para ser algo natural, em muitos casos consegue se tão somente à base de pílulas tranquilizantes. Mas o que foi que aconteceu? Nos cercamos de cuidados e percebemos que todo o cuidado não é suficiente. O controle da vida e das circunstâncias nos vaza escorregadio pelos vãos dos dedos. Nos intimidamos ao perceber o tamanho de nossa insignificância. Cerrar os olhos torna-se então a experiência dos loucos que, vencidos pelo sono, sucumbem vulneráveis.
Não foi assim com o monarca Saul? Flertou com a morte ao dormecer na caverna e,  por muito pouco, esta não lhe serviu de túmulo. No entanto, foi alvo da misericórdia do poeta a quem perseguia, que noutros tempos dedilhava docemente a harpa que lhe exorcizava a insônia. Este mesmo poeta salmodiou à posteridade que para se pegar no sono, deve se deitar em paz. É condição sine qua nom. Mas o que fazemos? Deitamos com problemas e preocupações, angústias sem fim nos atormentam por não termos aprendido a colocar no Senhor a nossa confiança, nem a fazer dEle o nosso porto seguro. De que nos adianta tantas preocupações se o Pregador já  advertiu a séculos que "tudo é vaidade e correr atrás do vento"?
Se em meio às tempestades do cotidiano nosso barco parece frágil, lembremos que maior que o barco é quem está nele.
"Só tu, Senhor, nos fazes repousar seguro", ensinou o músico, o poeta, o salmista, o homem segundo o coração de Deus. Diante disso, só nos resta deitar, orar, apagar a luz, relaxar,  ...
...e dormir.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O vazio que preenche...


"Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos." (Eclesiastes 9:3)




As vezes tento esvaziar me ... parece um vão exercício.

Invejo os que conhecem o silêncio nas encostas de morros enverdecidos...
Os que dormem com janelas abertas, tendo estrelas por testemunha da serenata dos grilos.

Invejo a paz do sorriso infantil, mesmo que manifesta num rosto senil.

Invejo a harmonia das cordas das harpas e dos violinos...as teclas fustigadas do piano velho...a música que penetra na alma  e adormece o valente.

Invejar não é bom, como não é bom não ter...mas não ter o que?

O vazio que preciso, neste vão exercício, de dança de palavras 
em busca da Paz.

Paz, seu nome é Jesus!

É a ti que procuro, mas cheio de mim não há lugar pra ti...

Esvazia me agora...usa a paisagem, usa a música ou a poesia, a criança ou o velho, o texto ou a prosa...

Só não me deixe cheio de mim, pois eu não mais me aguento...

Por isso mesmo, Príncipe da Paz... eu me rendo.



segunda-feira, 21 de março de 2011

Quando os deuses choram...


Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou. (Evangelho de Lucas 19:41)

A capacidade de Deus se condoer diante do caos humano...

Ja chorei intensamente, mas faz tempo que não o faço...choro sentido, choro doído, choro como expressão de uma angústia infinita, um sufocamento desesperador de tristeza. Estes foram meus verdadeiros choros, lágrimas vertidas pelo remorso, pelo arrependimento, pelo que deixei de viver em busca de uma felicidade que ja me pertencia. O choro da impotência, o choro torrencial...o choro que só se esgota no sono do qual lamentamos despertar.

""Chorar é diminuir a profundidade da dor." (William Shakespeare)

O choro é a manifestação mais humana dos humanos e também dos deuses...

Me lembro de Orfeu,o filho do deus sol, que encheu-se de amargura e tristeza após a morte de sua amada Eurídice. Entoava melodias tão triste que os deuses choravam ao ouvi-las...

Uma coisa me ocorre nesse devaneio, chorar não é atributo só de homens e de deuses, mas quando o próprio Deus chora, cai sobre mim como chuva inesperada um questionamento inquietante...a motivação do meu choro.

No geral meu choro começa e termina em mim mesmo. Eu sou a fonte de minha própria angústia.

Mas Jesus chorou diante do túmulo de Lázaro, condoído pelas lágrimas de suas irmãs.

Jesus chorou diante de Jerusalém que matava seus profetas.

Jesus chorava pela dor do outro e não pela sua própria dor.

A tragédia das nações, sejam elas produzidas por bombas aliadas, pelo despertar dos vulcões ou pela fúria subterrânea de placas em conflito, me impressionam, mas não convidam minhas lágrimas ao cortejo fúnebre de suas vítimas.

Sou um produto da minha época, não tenho tempo de chorar e, por isso mesmo, me redescobrir...me reinventar.

De nada me consola saber que não estou sozinho no deserto causticante da indiferença...

Mas com o Deus que se fez homem aprendo que chorar é preciso, mais que nunca...

Não por minhas mazelas, e sim pelas do mundo, pois ainda que chore a noite inteira, a alegria virá ao amanhecer.

sábado, 19 de março de 2011

Procuro Deus! Procuro Deus!


Por mais que eu tente, às vezes é difícil não perguntar por Deus...

Deus, onde estás???

Quem, ainda que se negue deísta, já não teve a sensação de que Deus se retirou do mundo? Que se cansou de nós? De que é sublime e grandioso demais para corroborar com nossas ilusões infantis de sua proximidade?

Desconfio de pessoas "íntimas" demais de Deus...que falam com tamanha propriedade: "Deus me revelou" ou ainda, "Deus me disse"...

Não há dúvida que precisamos de Deus, tal como o homem louco da Gaia Ciência de Nietzsche...

"O homem louco. - Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: "Procuro Deus! Procuro Deus!"? - E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? - gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. "Para onde foi Deus?" gritou ele, "já lhes direi! Nós o matamos - vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós?

Imagino que este seja o sentimento de muitas pessoas que, como eu, olham pra um Japão arrasado por terremotos e tsunamis, pra uma Líbia em guerra civil, pra uma área do globo que cansou das ditaturas e que clama por liberdade.

Para onde nos movemos nós em meio a tanta incerteza e complexidade da existência? Em meio a cadáveres que se acumulam vitimados por tragédias sucessivas?

A busca do lucro, a escravidão ao capitalismo, a subserviência a Mammon, a perda da humanidade e dos valores, a cultura do culto auto hedonista?

Para onde nos movemos nós? Cada dia nos distanciamos de Deus, mas continuamos a procurá-lo na esperança de que não tenha morrido, enquanto morremos lentamente...

Ainda que moribundos, ouvimos o sussurro dos profetas:

“Não vos assombreis e nem temais; acaso, desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça.” (Is 44:8)

Recobramos as forças que julgáva-mos não mais existirem para ainda perguntarmos:

Deus, onde estás?

“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57: 15)

Nisso entendemos que é na solidão dos que o procuram, no hospício que nos abriga a razão, no caos das nossas misérias existenciais das quais tanto queremos nos livrar, que Deus "se esconde"...

Joguemos fora nossas lanternas, não precisamos mais delas.

Céu pra que?


"Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano" (Cantares 4: 11)

De manhã cedo lá na casa da fazenda
Vai surgindo como lenda um cenário de amor
Café quentinho feito no fogão de lenha
Prosa farta, que gostoso começar o dia assim...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

O arco-íris desponta lá no horizonte
Por detrás daqueles montes chuva e sol a se mesclar
Quanto mais bela se desenha a paisagem,
Mais me encanto nessa viagem
Proseando com você...

Nem mesmo a passarada em revoada, ou mesmo a noite enluarada
Em todo seu esplendor
Quanto mais bela se desenha a paisagem,
Mais me encanto nessa viagem
Proseando com você...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

Passou o dia e se quer nos demos conta
Agora é noite que remonta nostalgia de paixão
Temos assunto pra varar a madrugada
Prosa farta, que gostoso terminar o dia assim...

Falar de amor com você é tão gostoso
Teu jeitinho tão dengoso me faz quase enlouquecer
E o teu abraço, o teu cheiro e o teu beijo
Me envolvem de tal forma que eu pergunto:

Céu pra que?

(Letra e Música / MP)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Em algum lugar além do arco-íris

Algumas canções se imortalizam, como essa interpretada por Suzan Erens sob direção do maestro e violinista Andre Rieu.
Amo a música classica, e de alguma maneira que não sei explicar, ela me aproxima de Deus. Divido com todos, portanto, esse espetáculo e a tradução logo abaixo do clássico de "O mágico de Oz" Somewhere over the raimbow

Que você, tal como este pregador encontre Deus, se não na letra, quem sabe na voz dessa privilegiada intérprete, na harmonia dos intrumentos tão lindamente tocados ou ainda, em algum lugar além do arco-íris...


Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá no alto
E os sonhos que você sonhou
Uma vez em um conto de ninar
Em algum lugar além do arco-íris
Pássaros azuis voam
E os sonhos que você sonhou
Sonhos realmente se tornam realidade

Algum dia eu vou desejar à uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,
Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam
E o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

Bem, eu vejo árvores verdes e
Rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer pra mim e pra você
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso

Bem eu vejo céus azuis e eu vejo nuvens brancas
E o brilho do dia
Eu gosto do escuro e eu penso comigo
Que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris tão bonitas no céu
Também estão no rosto das pessoas que passam
Eu vejo amigos apertando as mãos
Dizendo, "como você está?"
Eles estão realmente dizendo eu... eu te amo!
Eu ouço bebês chorando e vejo eles crescerem,
Eles aprenderão muito mais
Do que nós sabemos
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso.

Algum dia eu vou desejar à uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,
Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam
E o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

domingo, 23 de janeiro de 2011

A Grande Tristeza...


"Chorai com o que choram" (Trecho da carta de S. Paulo, Apóstolo, aos romanos)

Tenho me silenciado ao longo dos últimos dias em relação à tragédia das chuvas que se abateu sobre o sudeste brasileiro. Quanto mais a imprensa divulga exaustivamente as notícias e imagens do horror, sinto-me anestesiado. Posso dizer que fui surpreendido pela proporção do desastre. Essa sensação de torpor que me envolve, sem saber exatamente o que sinto toma dimensões ainda maiores na medida em que me familiarizo com o drama das vítimas. São tantos relatos comoventes que me pego algumas vezes com os olhos francamente umedecidos. Há exatos um ano atrás escrevia aqui mesmo um texto sobre o deslizamento de terra em Angra dos Reis. Dissertava sobre os paradoxos do existir, sobre o quanto a morte marca presença no paraíso em meio a cenários arrebatadores de beleza cinematográfica. Beleza e morte num mesmo lugar, realidades antagônicas que jamais deveriam se cruzar. A vontade que tenho é de correr para a "Cabana" na expectativa de encontrar Deus e lhe perguntar por que o mau triunfa? Por mais que eu tenha respostas, elas não me satisfazem, não impedem que me sinta menos que nada. Eu sei que chove torrencialmente no sudeste brasileiro em todo verão. Eu sei que pessoas morrem todos os dias, e, às vezes, no atacado. Eu sei que não se deve ocupar com moradia as encostas dos morros. Sei de tudo isso tanto quanto sei que Deus é amor...
Amor? Como assim?
Como vivenciar uma fé genuína em meio a catástrofes de tão grande proporção?
Acho que a essa altura já identifico o que sinto...Trata-se de uma "grande tristeza".
Não perdi filhos, não perdi mulher, amigos nem irmãos...não perdi ninguém, mas perdi muito. Parte de mim se foi com aquelas vítimas. Não é uma questão de empatia tão somente, mas trata-se de uma constatação. Nós,a humanidade, somos um corpo. E como tal, somos interligados ainda que desconheçamos boa parte de seus membros. Somos a espécie humana. Um dia Deus disse para alguém "Façamos o homem à nossa imagem". Isso nos faz iguais. Compartilhamos sentimentos, limitações e potencialidades. Por isso me sinto triste. Estou tomado de uma grande tristeza. O pregador, que geralmente busca palavras para confortar os que sofrem, hoje se prostra diante dessa grande tristeza, talvez como o salmista que recusava consolar-se...
Talvez seja isso mesmo...não é hora de falar...não é hora de consolar...não é hora de encontrar Deus na Cabana... Talvez a hora seja tão somente de...

...chorar com os que choram.