quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma perspectiva real da existência...

Melhor é ir a casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete... (Eclesiastes 7:2)


Mais uma vez somos surpreendidos pelas reflexões  do pregador.
Trata-se de uma frase cujo sentido só se encontra dentro de uma compreensão do contexto em que se insere o livro de Eclesiastes, ou seja, a vaidade da vida.

É evidente que ninguém prefere estar num velório, quando poderia estar numa festa. As motivações que levam a ambos os lugares são absolutamente diferentes.

As pessoas de uma maneira geral tendem a isolar-se da realidade concreta, construindo "realidades alternativas" e assim, reagir mui negativamente ante as contrariedades da vida.

O casal se casa idealizando ser feliz para sempre...

Os filhos são criados como propriedades exclusiva de seus genitores e todos os cuidados lhe são assegurados...

O dinheiro é poupado de sorte a garantir um futuro tranquilo para toda a família...

Tudo é pensado e calculado de maneira a evitar os infortúnios.

Felicidade... Áhh... a felicidade é a meta de todos!

Ocorre, porém, que ninguém passa incólume pela existência e todos sabem disso.

Ainda assim, muitos preferem erigir verdadeiras "neverlands mentais" ao invés de um monumento à reflexão que os façam sábios para a vida.

Platão disse certa vez que "uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida".

O Pregador se reafirma quando diz que "o coração dos sábios está na casa do luto" (v.4)

Esta não é uma mensagem segundo o gosto do Pregador, mas é oriunda das constatações que faz acerca da existência, como fruto de sua reflexão.

O existir é isso, saber passar pela vida admitindo e encarando com a maturidade necessária a possiblidade tanto do bem como do mal.

Trata-se de uma verdade que não pode ser surprimida do discurso endereçado a Assembléia.

Já se disse com muita propriedade que “não há bem que sempre dure e nem mau que nunca se acabe”
O que vemos hoje em dia são fiéis paparicados com discursos triunfalistas insurgidos de púlpitos não reflexivos.

O andar com Deus não nos exime de ser visitados pela tragédia, seja ela na forma de casamentos desfeitos, filhos tirados, patrimônios perdidos.

É o desejo do coração de Deus que os que o servem tenham uma perspectiva real da existência, para que o sigam desprovidos de interesses outros que não somente a Sua Glória...

Que como o velho Jó, que experimentou como poucos a coexistência entre o bem e o mau, possamos dizer:
"Temos recebido o bem de Deus e não recebería-mos também o mal?" (Jó 2:10)
e ainda...

"O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor". (Jó. 1:21)

Este pregador que vos escreve também está aprendendo a “existir”...

Tem feito disso a sua busca constante, entre meditações, orações e claro...

...devaneios.

Como me acalenta a alma saber que não estou só nessa jornada!

Marcello di Paola

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Onde estão os consoladores?


"Examinei também todas as opressões que se cometem debaixo do sol. Aí está o choro dos oprimidos, e não há quem os console; ninguém os apóia contra a violência de seus opressores. (Eclesiastes 4: 1-2)

Quando me pego profundamente entristecido... Olhando no espelho e já não me reconhecendo em meio a tantas lamúrias...

Quando a existência se me torna insossa de maneira que não vejo graça nem no sorriso da criança...

Quando me acovardo em auto-piedade ante os dissabores do cotidiano...

Penso naquele cego, diariamente pela manhã no cruzamento da Indianópolis com a Jurupis... Cumprimentando os motoristas com um sonoro e entusiasmado "Bom dia São Paulo! Bom dia Brasil!”

Penso em pequeninos que nos faróis comercializam as balas que deveriam adoçar-lhes a infância...

Penso nos malabares e deficientes que como verdadeiros desportistas vencem o relógio na disputa contra os semáforos em troca de migalhas...
Penso no pai que volta pra casa sem o pão providencial e encontra os filhos já dormindo vencidos pela fome e a esposa silenciada pelo desespero.

Penso no casal que há semanas não se delicía nas núpcias por ter isto se tornado obsoleto ante as demandas pela sobrevivência.

Penso nas macas dos corredores em hospitais públicos, onde inclusive meu pai dormiu pela última vez...

Nisso, meu rosto cora-se de vergonha... A boca seca, o coração aperta e o suor me molha as mãos...a voz dos queixumes embarga... Quando meus olhos encontram o choro dos oprimidos e finalmente enxerga que quem deveria lhes levar o consolo está por demais ocupado consolando-se a si mesmo...






Marcello di Paola

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Reflexões sobre a devoção... numa praça qualquer...


Por uma dessas contigências da vida, passei o final da tarde dessa sexta numa pracinha.
Meio sem ter o que fazer, tinha que esperar a hora passar...sentei-me num banco e fiquei observando o movimento a minha volta. Era uma bela praça, muito bem conservada e com pouco movimento, não obstante ser passagem de trabalhadores em final de expediente.
A poucos metros da lateral do banco em que estava, havia uma capelinha em tijolos aparente rodeada de vasos com flores e variados tipos de plantas. Imitava uma pequena catedral. No pináculo havia uma cruz vazia e no interior da capelinha, protegida por paredes de vidro , jazia a imagem da padroeira do Brasil.

Não é o tipo de cena que costuma compor o filme da minha vida. Já me incomodou muito, admito. Hoje não mais, ao contrário, procuro ver além das aparências e eventualmente sou brindado com grandes ensinamentos por proceder assim...e desta vez não foi diferente.
Não demorou para uma outra "imagem" roubar minha atenção.

Um senhor bastante humilde, aparentando uma certa idade montado numa bicicleta igualmente velha, abarrotada de quinquilharias, passou por mim e se deteve em frente a capela. Ali, sem fazer conta do casal que namorava num banco a sua frente poucos metros, prestou sua homenagem a santa.
Observando-o, fiquei imaginando o teor de suas súplicas. Que motivo o levaria a desviar de seu caminho habitual até aquele local sagrado, objeto de sua fé?
Uma região geográfica determinada como espaço cúltico não é invenção recente, aliás era um dos elementos de discórdia entre judeus que adoravam em Jerusalém, e samaritanos que preferiam o Monte Gerizim.

Por um momento aquela cena, além de me constranger, me diminiu. Percebi que minha devoção não se elevava a altura daquele homem. Vou na igreja em dias próprios, mas isso já faz parte da minha rotina. Não me é comum desviar do caminho habitual no dia a dia e me por a cultuar, por alguns instantes que seja. Meu culto pessoal geralmente é metódico e dificilmente se interpõe entre outros compromissos. Ou é de manhã bem cedo ou de noite bem tarde.
A fé daquele homem mexeu comigo. No caminho de casa, converteu aquela praça em seu santuário particular, alheio a tudo que se passava em volta. Nos poucos minutos que ali esteve sequestrou minha atenção e, como resgate, exigiu-me reflexão em profundidade quanto a qualidade de minha devoção.
Mas ainda tinha o que aprender sobre isso...
Eis que lá adiante vinham duas senhoras amparadas uma na outra. Seus semblantes destilavam serenidade e paz. Uma era mais idosa que a outra. Fiquei arrazoando se seriam irmãs, mãe e filha ou simplesmente amigas. Elas cruzaram a praça conversando, como se ha muito não se vissem, e entraram numa casa logo a frente.
Em poucos instantes as vejo retornando, agora com sacolas plásticas destas de mercado e uma vassoura de piaçava. Entram no cercado da capelinha e passam a faxinar o local.
Como conversavam aquelas duas senhoras!
Falam amigavelmente e amavelmente uma com a outra, enquanto podam rosas e recolhem folhas secas. Era nítida a alegria com que prestavam aquele serviço voluntário. Projetei-me no tempo num devaneio relâmpago e tentei ver-me na velhice...exercício vão...mas quando ela chegar, quero ser sereno assim, pensei.
Dado o serviço por concluído, como num movimento combinado, ambas silenciam e se voltam para a imagem além do vidro, sempre amparadas uma na outra...
devoção...
Nesse instante minha mente é de novo sequestrada, só que o resgate exigido é mais que reflexão. Me é requerido uma atitude.
Meus olhos umedecem e a lágrima escorre suave e fresca. A mensagem é clara como água pura e cristalina.
No protestantismo evangélico sou ensinado a crer num Deus invisível. Essa interação entre o visível e o invisível, entre o finito e o infinito requer o empenho de uma fé autêntica, de uma fé devota, por assim dizer. Não tenho uma imagem mediadora no interior de uma capelinha cercada de flores para cuidar e tornar tangível essa relação com o divino. Isso faz com que minha relação com Deus seja muita mais na base do receber do que de oferecer.
"Que darei eu a o Senhor por todos os benefícios que me tem feito?" Pergunta o salmista.
Como demonstrar ao Senhor minha gratidão de forma concreta e devota como aquelas senhoras ao objeto de sua fé?
A resposta eu encontrei em duas fontes que se complementam, no Evangelho e nas próprias senhoras que o vivenciam.
"Sempre que fizestes o bem a um destes pequeninos, a mim o fizeste", ensinou Jesus.
Após seu momento de prece elas saem do cercadinho da capela, ainda de braços dados, depositam as sacolas com lixo num cantinho e seguem de novo para a casa lá adiante. Meus olhos insistem em acompanhá-las.
Em questão de segundos vejo voltar apenas uma delas, a senhora mais nova. Ela pega as sacolas com lixo, a vassoura e com um aceno de cabeça passa por mim e esboça um sorriso contido, que é imediatamente retribuído desproporcionalmente ansioso.
Puz-me a refletir que a real devoção daquelas senhoras se manifestou no cuidado que tinham uma pela outra. A essa altura já sabia pela forma de tratamento que se dispensavam, não serem aparentadas, mas simplesmente amigas.
"Há amigo mais chegado que um irmão".
Não é assim que diz o provérbio?
O que o pregador apreendeu enquanto refletia naquela praça, tem a ver com o valor das pessoas.
Talvez não veja mais o homem da bicicleta e nem as duas simpáticas velhinhas, mas o que aquele encontro casual me proporcionou em termos de aprendizado é que...
... na expontaneidade em buscar a Deus e no exercício do amor, que se revela no cuidado com o próximo, reside a verdadeira devoção.
Marcello di Paola

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Além do sol...

O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol. (Eclesiastes 1:9)

A sensação entediante da mesmice visita a todos num dado momento da vida.
Aprisionados no espaço, no tempo e no finito, não raro, questionamos o real valor de uma existência a qual fomos convocados a viver.
Sim...alguém, porventura, escolheu nascer?
E ao nascer as condições de vida já não estavam dadas?
Que pôde você e eu fazer sobre isso?
Somos um detalhe "quase" que imperceptível no tempo e no espaço..."quase" que um acaso.
Como se não bastasse, ainda somos dotados de uma consciência que nos situa em meio ao todo que nos cerca...um todo do qual muito pouco conhecemos.
Quem sabe não foi num devaneio assim que o pregador escreveu:
"O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol".
É uma frase cheia de tédio, certamente composta após um período de reflexão. Passa uma idéia um tanto pessimista...é carregada de desesperança...uma conclusão que sucede um suspiro profundo. Seria apenas uma frase dita por alguém num dado momento da história, não fosse ela a expressão de uma realidade comum ao gênero humano.
O "Nada é novo debaixo do sol", sugere um desgaste do pregador com a própria existência. O aborrecimento com uma rotina previsível.
É como se ele estivesse perguntando: "Mas a vida é só isso mesmo?"
Um ciclo interminável de repetições...
Não é assim que muitas vezes avaliamos nossas vidas?
Não temos a sensação de que nos falta algo?
É como se olhássemos em volta e nossos olhos quisessem ver mais do que veem e os ouvidos ouvirem mais do que ouvem. É um sentimento de incompletude que torna velho tudo o que ja foi novo...
E nossa crise não se aprofunda ainda mais ao lembrarmos que, como crentes, deveríamos ser felizes e gratos por tudo?
Mas a grande crise está aí, quando nos obrigamos a conciliar o que sentimos com o que cremos...
O Salmista já perguntava:
"Por que estás abatida, óh minha alma? Por que te perturbas dentro em mim?"
E isto depois de declarar
"Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus?" (Salmo 42)
A frase do pregador que abre essa reflexão faz um enorme sentido se considerado apenas sob uma ótica humana. Afinal é essa a sensação que todos temos em momentos específicos da vida. Nos identificamos com o pregador, porque sua limitação não é só dele, é nossa também. Por mais que tenham se passados séculos, o ser humano continua com as mesmas inquietações de seus ancestrais.
O contraponto a esta declaração aparentemente destituída de esperança de que tudo se repete e de que nada há novo debaixo do sol, nos é dada por Jeremias em suas lamentações:
"As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. (Lm 3.22,23)"
Portanto, pensar sobre isso certamente trará um novo alento a todos nós, que invariavelmente somos envolvidos pelo pessimismo que se origina no tédio.
Deus não está debaixo do sol, Ele está além do sol, de maneira a não ser vitimado por essa rotina entediante que tantas vezes nos acomete.
Minha palavra a você, prezado leitor, é de solidariedade. Sou solidário aos sentimentos conflitantes que nos aproximam e nos tornam comum. Não quero pregar o triunfalismo de uma vida sempre pra cima com base numa confissão positiva. Mas quero incentiva-lo a sempre se lembrar que Deus se apiedou de nós, pecadores, ao submeter-se a viver debaixo do sol em figura humana, na pessoa de Jesus. Com isso, entende nossos dilemas e fraquesas e não nos olha com cobrança, mas piedade e amor.
Concluo, concordando com o pregador quando diz que "nada há novo debaixo do sol", mas não deixando de observar que...

...além do sol há esperança.

Marcello di Paola

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Deus faz questão da maioria evangélica?

Não é de hoje que muitos líderes denominacionais comemoram a possibilidade de o Brasil contar com uma maioria evangélica em pouco tempo. O que penso com os meu botões é se tal projeção é realmente digna de comemoração, se não vejamos:

Com o aumento significativo da população evangélica, fato esse inconstestável, era para haver uma elevação dos valores éticos e morais tanto na sociedade, quanto nas próprias igrejas. No entanto, faça uma pesquisa na rua, na escola, no trabalho perguntando o que as pessoas associam ao termo "evangélico". Não se surpreenda se vc ouvir definições como "oportunismo", "exploração", "xarlatanismo". O que para muitos crentes soa como "perseguição aos evangélicos", pra mim nada mais é que a colheita do que foi plantado ao longo dos últimos anos.
Nas últimas décadas o evangelho que tem arrebanhado dezenas de milhares de cabeças de ovelhas não tem sido o Evangelho da Cruz, mas o "evangelho da barganha", aquele evangelho que "muda" a vida do desafortunado quase que num passe de mágica, da água para o vinho.
Quem não está atrás de soluções mirabolantes e imediatas para os seus problemas?

É evidente que um discurso que oferece tal conteúdo encontrará ouvidos cativos e atentos engrossando as fileiras do seguimento evangélico da população.

A prova inconteste de que há algo errado com esse "crescimento" são as próprias evidências.

Escândalos pipocam aqui e acolá, doutrinas estranhas e práticas antibíblicas, de exceção se tornaram regra em muitas igrejas.
Olho para uma cidade como o Rio de Janeiro, que proporcionalmente é a cidade mais evangélica do Brasil e o que vejo? O mesmo que vocês vêem! Uma violência sem fim, o carnaval mais badalado do mundo e por aí vai.
E o sal da terra?
E a luz do mundo?

E o Espírito Santo, estado brasileiro que se reveza com o Rio na proporção de número de evangélicos, que não raro tem sua política associada a corrupção?

Que dizer de São Paulo, a maior metrópole da AL...quantas igrejas evangélicas!!!

A questão que quero colocar é:

A proporção de evangélicos tem correspondido a realidade que se espera de uma sociedasde com grande número de evangélicos, isso à luz da Bíblia?

Minha crítica aqui é aos que se vangloriam do crescimento quantitativo em detrimento do qualitativo.

A presença de uma maioria evangélica no Brasil tem que necessariamente evidenciar o poder de Deus na condução do país e por extensão em toda a sociedade na forma de diminuição da corrupção, da violência, da imoralidade e da desigualdade.
Convém lembrar que Deus nunca fez questão de maiorias.
Os milhares de midianistas foram enfrentados com apenas 300 valentes de Gideão.
Sansão venceu mais de mil filisteus com a queixada de um jumento.
Elias, sozinho, enfrentou os 300 profetas de Baal no Monte Carmelo.
Jesus, com apenas 12 homens, estabeleceu o Cristianismo.

Essas minorias de Deus fizeram a diferença no mundo, de sorte que os líderes que comemoram as estatíticas de crescimento dos evangélicos, devem voltar os seus olhos para o interior de sua igrejas e avaliar a qualidade desse crescimento.

Se Deus fizesse questão de maiorias, não seria estreita a porta e nem apertado o caminho da salvação, e muito menos escolheria poucos dentre os muito que são chamados.

Marcello di Paola

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Evangélicos X Desenvolvimento Social

Sociólogo diz que crescimento evangélico ajuda na melhora dos índices de desenvolvimento social no Brasil.Divulgada em 9 de outubro pelo IBGE, a mais recente "Análise das condições de vida da população brasileira - 2009" aponta uma melhora considerável em vários aspectos da vida dos brasileiros. Para o sociólogo Alexandre Brasil Fonseca (pós-doutorado pela Universidade de Barcelona, na Espanha), a participação evangélica mais efetiva neste processo pode ser observada na alteração de certas políticas públicas."É um segmento socialmente organizado, que argumenta e luta por suas opiniões. É inegável que isso traz benefícios sociais. Com isso, não é um fato desprezível a histórica participação evangélica em Conselhos de Direitos Civis, nos últimos anos como por exemplo: O Conselho Nacional de Assistência (CNAS), o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), que tem três organizações evangélicas bem represntadas, e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea)" argumenta Alexandre.Para o sociólogo, o aumento do salário mínimo e a bolsa família são o reflexo dessas políticas públicas, centradas no ser humano, fundamentais para o processo de melhoria nas condições de vida dos brasileiros.O futuro parece ser ainda mais promissor. Uma das mais importantes revistas do país, a Época, da Editora Globo, publicou recentemente uma série de matérias com previsões para o Brasil em 2020. O crescimento evangélico é abordado em uma das matérias. Baseado em dados estatísticos do SEPAL, "estima-se que 50% da população brasileira poderá ser evangélica" daqui a 11 anos.Para a revista, "a influência evangélica em 2020 contribuirá para a diminuição no consumo do álcool, o aumento da escolaridade e a diminuição no número de lares desfeitos, já que a família é prioridade para os evangélicos.

"Fonte: Agência Soma

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tempo de abraçar...ou não...

"Tudo tem o seu tempo determinado...
...tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar." (Eclesiastes 3:1 e 5)

O homem é um ser sociável. Ele tem necessidade de interagir com o próximo. É na familia que se dá essas primeiras interações que vai se ampliando no curso da vida. Há momentos, no entanto, que o homem sente a necessidade de estar só. Só consigo mesmo...só com Deus. Esta solidão pode ser muito frutífera para alguns, ao passo que para outros pode ser devastadora. O que sabemos com certeza, é que existe tanto o "tempo de abraçar", marcado pela efervecência nas relações pessoais, como o tempo de "afastar-se de abraçar", marcado por uma reclusão muitas vezes auto-imposta. Não obstante o abismo que separa as duas condições, é possível tirar lições valiosas de cada uma delas.
Penso que devemos viver intensamente os "momentos" da vida. Momentos que duram minutos, horas, dias, semanas, meses e anos...
O valor das relações não é medido pelo tempo do convívio tão somente, mas pela intensidade com que se vive.

Jesus esteve três anos acompanhando e sendo acompanhado por seus discípulos. Era tempo de abraçar.

Cumprida sua missão redentora, ausentou-se para o seio do Pai. Era tempo de afastar-se de abraçar.

Não raro, Jesus mantinha uma vida social ativa, comia e bebia na casa dos amigos.

Era tempo de abraçar.

Algumas vezes, porém, preferia estar só para orar.

Era tempo de afastar-se de abraçar.

Em geral quando estamos ao lado de quem amamos intensamente, nos esquecemos ou quem sabe insistimos em não aprender, que isso não representa mais que uma fração da eternidade que se reveza entre momentos de abraçar e afastar-se de abraçar.
Alguém ja disse com muita propriedade que "nada é nosso...tudo é emprestado", e isto inclui nossas relações pessoais, família, pai, mãe, irmãos, amigos e amores...

Sofremos muito mais quando deixamos de encarar essa realidade, pois ela se materializará diante de nossos olhos mais cedo ou mais tarde, e isso, sem exceções.
O afastar-se de abraçar é comumente visto como negativo diante do abraçar. Convém lembrar, porém, que o "afastar-se" de Jesus correspondeu à vinda do Consolador para habitar conosco até a consumação dos séculos. O Espírito Santo veio e nos abraçou para sempre!

Se eventualmente, você que me lê, estiver vivendo um desses momentos de afastar-se de abraçar, lembre-se que o Consolador está a disposição de todo a quele que lhe confiar suas tristezas e angústias. Ele, e tão somente Ele, sabe dimensionar a intensidade de sua dor, oferecendo-lhe o seu abraço.
Aproveite portanto... pois o afastar-se de abraçar bem pode ser na verdade, tempo de abraçar e ser abraçado pelo próprio Deus.


Marcello di Paola


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Busquem a Jesus


Certa noite de domingo estava numa igreja bastista próximo de onde moro. Aguardava a hora da Palavra, que é o momento que mais espero no culto. Antes da mensagem, porém, tive a grata surpresa de ouvir um quarteto masculino entoando uma linda música a qual divido a letra com vocês... Não importa as circuntâncias, busque a Jesus.
***
Cada dia posso ver
Perceber em seu olhar
As pessoas tão vazias
Cheias de pesar
Vivem cada vez mais sós
Morrem sem amor
Um sorriso esconde a dor
Só jesus o vê

Busquem a Jesus
Busquem a Jesus
Quando o sonho se desfaz
Ele dá a sua paz

Busquem a Jesus
Busquem a Jesus
É preciso entender
Cristo dá sua paz

Sua luz Jesus me dá
Ele espera que eu vá
Ajudar a quem quiser
Nova vida encontrar
E a todo que vier
Muita paz buscar
Novo sol irá brilhar
Trevas nunca mais

Busquem a Jesus
Busquem a Jesus
Quando o sonho se desfaz
Ele da sua Paz

Busquem a Jesus
Busquem a Jesus
É preciso entender
É preciso aceitar
Que Cristo traz a paz...

Derrotados pelo triunfalismo...

Está dificil assistir ou ouvir qualquer programa de conteúdo evangélico seja na televisão ou no rádio. É nítido o esforço por um discurso referenciado pelo IBOPE. O Evangelho que os Apóstolos e pais da igreja pregavam e que dava frutos é algo considerado anacrônico e fora de propósito nos dias de hoje. É de provocar náuseas os conteúdos triunfalistas dos "sermões" que fazem proezas com a exegese bíblica conferindo significados oportunistas ao texto sagrado. Assisti a pouco tempo um vídeo de um "ex pastor" da Universal que reproduzia o episódio da viúva pobre dando sua oferta, suas duas únicas moedas. Ele perguntava ao seu auditório quem deu mais, se a viúva ou os fariseus; O auditório respondia em uníssono:
A viúva!!!
Evidente que foi a viúva. Não obstante ela ter dado apenas duas moedas, ela deu TUDO O QUE TINHA". Eu duvido, dizia o pastor, que você só tem duas moedinhas aí. Qual é o seu tudo hoje? Qual seu saldo bancário? É isso que é o seu tudo e é isso que vc tem que depositar aqui no altar de Deus.
Muitos podem considerar esse exemplo esdrúxulo, mas em maior ou menor grau é exatamente isso que está acontecendo nestas igrejas adeptas da famigerada "teologia da prosperidade".
No Evangelho de Marcos lemos sobre Jesus:
E começou a experimentar pavor e angústia. E lhes disse: Minha alma está triste a ponto de morrer [...] Abba! Pai, tudo te é possível, afasta de mim essa taça! Entretanto não o que eu quero, mas, o que Tu queres!”. Marcos 14: 33b, 34 e 36 .
Quão distante está hoje a realidade de grande parte das igrejas neopentecostais da experiência do Cristo.
O Ev. Luiz Henrique de Almeida e Silva, um dos escritores-colaboradores das Revistas de Escola Dominical da CPAD afirma em sua reflexão:

“O triunfalismo nada mais é que o principal produto da famigerada Teologia da Prosperidade, a qual acrescento o ‘Material’, ficando assim: Teologia da Prosperidade Material (ou TPM dos crentes...). É um tal de não aceito isso, não aceito aquilo outro, doente não posso ficar, miséria não é pra mim e por aí vai... A aceitação, ou melhor, a proclamação da Teologia da Prosperidade foi a institucionalização da arrogância entre os crentes. Por que essa ‘nova revelação’ não surgiu na época da igreja primitiva? Seria muito útil lá, afinal a perseguição era terrível e cruel. Ser cristão naquela época era quase que ser considerado terrorista da Al Qaeda nos dias de hoje. Mas os intentos de Satanás foram frustrados, visto que para cada cristão que morria surgiam dez em seu lugar! Parecia que era fertilizante e não sangue que corria em suas veias. Cada gota de sangue cristão derramado irrigava uma nova safra de crentes mais dispostos que a anterior, para desespero do diabo. Aquilo pra ele era um verdadeiro inferno. Escaldado com essas experiências negativas (ou seria melhor dizer positivas?), ele resolveu mudar de tática: descobriu que melhor que matar um crente fiel era deixá-lo vivo, mas tornando-o infiel. Com isso, o benefício seria duplo: enquanto a morte de um crente fiel produzia piedade em vários outros, a vida de um crente infiel (se é que isso existe!) traz vilipêndio ao nome de Jesus e desmoralização à sua igreja, que é o seu corpo”.

sábado, 3 de outubro de 2009

Um Deus Moleque

A imagem caricata de um Deus "mau humorado" permeia o imaginário de muitas pessoas. Se não isso, lhes é inconcebível a idéia de um "Deus moleque" que brinca e sorri e por que não, até gargalha.
Nesse devaneio, Delcides Marques, colega de classe durante meus tempos na ESP, nos presenteia com um saboroso livro, no qual reproduzo apenas o prefácio para lhes instigar.

"Não é todo dia que a gente é pego por um livro poema, por um poema livro.

Não é todo dia que a gente é surpreendido pela declaração de que Deus é menino ou menina.

Não é todo dia que a gente é confrontado pelo fato de que o Deus encarnado, antes de tudo, brincou...

Não é todo dia que a gente se dá conta de que brincar é mais sério do que ser sério.

Não é todo dia que a gente é levado a brincar enquanto lê, e a ler enquanto brinca.

Não é todo dia que a gente se apercebe de que só um Deus que sabe e gosta de brincar, poderia por tanta cor e tanta beleza num mundo que vai precisar ser reformulado.

Não é todo dia que a gente é movido a dar um sorriso, estendendo-o como a melhor forma de oração.

Não é todo dia que o corpo ganha significado.

Não é todo dia que ser criança, deixa de ser a busca pelo puro e perfeito e passa a ser apenas a busca pela alegria de viver, pela alegria de brincar.

Não é todo dia que um pensador cristão nos faz ver o sorriso nos lábios de Jesus. O eterno menino Jesus.

Como ficamos áridos.
Como nos tornamos estéreis.
Como ousamos ser os dissecadores de Deus?
Como nossas certezas acabaram com nossa alegria.
Como nossas alegrias ficaram sem sentido.
Como nossas descobertas, pesquisas, perderam o rumo.
Como a velhice invadiu-nos a alma.
Como perdemos a eternidade.
Como precisamos voltar a ser apenas criança!
Que reaprendamos o sentido do riso.
Que reconquistemos a força da alegria.Que retomemos a verdade do berço.
Que redescubramos o sentido na festa.
Que festejemos a vida.
Que reaprendamos que a alegria é a única arma contra a insensatez.
Que o non-sense que faz da humanidade o único motivo transforme a vida num grande sorriso.
Que nos encontremos na alegria de Deus que é a nossa força.
Que aprendamos que vida em abundância é vida de gargalhadas.
Que busquemos uma vida-circo, onde todos se apresentem a todos, buscando gerar um sorriso em cada um.

Obrigado Delcides.


Ariovaldo Ramos
Presidente da Visão Mundial
Missionário da SEPAL


Obs.: O Livro tem o título "Reino de Deus, Reino da Criança - o desejo de voltar a ser criança e ser feliz". A Editora é Abba Press.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Neoevangélicos: raízes podres e indigestas


Por Derval Dasilio

Os surtos neoevangélicos recentes são certamente contaminados por uma estruturação clara em torno de um poder religioso especializado, econômico, restrito, hierárquico, autoritário, objetivo, moderno. Os fiéis tramitam essencialmente no ambiente urbano marcado pelo anonimato, por relações indiretas, pela massificação dos costumes, sem expressão de comunhão e de comunidade, em reação estrondosa às condições sociais e econômicas. Imaginam-se no mundo pré-histórico? Nunca. São muito modernos, capitalistas “in essentia”, como coreografia de mitos ancestrais manipulados convenientemente.A religião é um fenômeno antropológico extraordinário! Todas as religiões têm começo e origem. Nos primórdios imemoriais, na antiguidade e até hoje, as narrativas sagradas, os rituais, as práticas morais (em cada grupo religioso, em toda parte e em todo tempo, pré-histórico ou não) e a religião nunca se dissociam dos meios de produção econômica (João Décio Passos). Narrativas míticas, miraculosas, apontando prodígios, eventos divinos, transcendem à dinâmica histórica enquanto colocam homens e mulheres face a face com o transcendente. Estão na religião. Este é um ponto. O outro refere-se à institucionalização da religião, quando vão se racionalizar origens e fins. Atualizemos o surto contemporâneo da religião de mercado.Pensemos no céu noturno, em forma de cúpula, com estrelas cadentes. Debaixo dele as pessoas armavam tendas. Como seria intrigante a marcha regular das estrelas, os céus cruzados periodicamente por tochas de fogo em alta velocidade, estrelas cadentes, grandes rios lácteos correndo pelo céu, tapetes gigantescos de estrelas estendidos nas noites limpas... Criaturas poderosas deveriam viver no firmamento... Nasce a religião! Magos, videntes, curandeiros e feiticeiros conheciam esses mistérios. Tinham, portanto, as chaves dos lugares sagrados, dos santuários, dos altares onde se fariam sacrifícios. Podiam manipular a religião por causa de seus atributos e competências. A Bíblia Hebraica, contudo, não esquece nenhum detalhe a respeito dessa religiosidade: condena-a. O homem bíblico não é diferente dos outros: denuncia-a imediatamente. A guinada na direção da religião revelada ocorrerá gradativamente.A religiosidade comum a todos os homens pode ser esboçada assim. Contudo, a experiência de religião encontrada no Antigo Testamento vai fugir do comum. O ambiente mesopotâmico e depois cananita enseja uma abordagem diferenciada, notável. O povo bíblico crê numa religião revelada. Deus é espontâneo, revela-se porque quer. Não crê na religião natural, fenomenológica, calcada em sentimentos diante do fascinante mundo ao redor. No segundo caso, os fenômenos físicos ditam o ritmo dos acontecimentos. E agora, o deus econômicus neoevangélico, dita novas regras? A aflição sobre fenômenos sobre os quais não se possui nenhum controle, vida nômade debaixo de céus estrelados contrapostos às tempestades noturnas, medonhas, céus lampejados vivamente por raios intensos, exigiram uma resposta do homem. Imaginemos uma árvore despedaçada por um raio, como acontece ainda hoje em áreas rurais, na madeira carbonizada e exposta (terror que converteu Lutero!). Acrescentemos a observação de ciclones, furacões, maremotos. Como explicar um vulcão em erupção, extensões de terra abaladas, tremendo, e em seguida rachadas em grandes distâncias, num mundo limitado ao que as pessoas conheciam? Hoje, o otimismo evangélico econômico, em trono da prosperidade, passa ao largo dessas questões.Deus, aqui, além de assemelhar-se ao “deus ex machina” da teatrologia da Grécia Antiga, é bem brasileiro. Deus é um serviçal, “deus-quebra-galho”, como num receituário doméstico. Todas as soluções possíveis para alguém se dar bem na vida. O crente ora e ordena à divindade imprensada na parede, depois das ofertas compulsórias: ”Fiz a minha parte, agora faças a tua”. Estamos na iminência de um “deus demitido do trono da graça”. Perdeu-se a essência bíblica que convoca à ética, solidariedade, compaixão e misericórdia. A graça de Deus custa muito caro no mundo neoevangélico carismático.•

Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil
Fonte: http://derv.wordpress.com/